Dia 7 de Janeiro, Terça-feira

Começa-se por um passeio a pé. Faz-se parte do Camino de Herrera, cujo trilho se inicia não muito longe de casa.

Tinha visto a placa quando chegámos de forma que é fácil voltar ao ponto de partida do passeio e iniciar a caminhada. As primeiras centenas de metros remetem para um imaginário de contos de fadas. O trilho é pavimentado com pedras arredondadas sendo ladeado de árvores frondosas. O sol encontra-se ainda baixo e os seus raios penetram na folhagem desenhando linhas obliquas à nossa frente.

De um lado existe um amplo prado verde onde pastam cavalos e bovinos. Tudo muito colorido, muito luminoso.

Mais à frente vamos entrar no estradão de terra batida onde passam viaturas de tempos a tempos. Cruzamos um ribeiro de águas rápidas e por fim chegamos ao ponto alto do passeio: umas quedas de água que num recanto sossegado caem sobre o riacho. Prosseguimos, alcançando um local onde as águas se espraiam, acalmando-se com o espaço que lhes é concedido. Ideal para relaxar um pouco e, havendo algo para petiscar, para um picnic.

O caminho de regresso não se faz pelo mesmo percurso. Queremos chegar à extremidade oposta da Garrucha. E o que é a Garrucha? Trata-se de um engenho quase artesanal que funciona como um teleférico improvisado, utilizado para ultrapassar vales de geografia caprichosa. No caso de Jardin, permite vir da cidade para os montes a oeste, onde se estendem fincas e casario que antes se encontravam bem mais isolados.

Os visitantes fazem habitual o percurso de ida e volta no pequeno cesto que, suspenso de um cabo de aço, vai e vem, de um lado para o outro. Mas nós quisemos fazer diferente, com um passeio a pé até à extremidade oposto.

Quando lá chegámos, depois de alguns quilómetros muito interessantes, onde vimos como se vive em comunidades mais afastadas, ainda o sistema não se encontrava activo para aquele dia. Tanto melhor. Existe um café, que estava encerrado, onde nos pudemos sentar, descansando um pouco e apreciando as vistas.

Finalmente a máquina começou a vibrar. Sinal de que se faziam os preparativos para mais um dia de trabalho. Logo apareceu a funcionária que deste lado trataria de tudo. E algumas pessoas que planeavam fazer o mesmo que nós.

Não pude fazer a travessia com a tranquilidade que tinha imaginado porque o cesto ia cheio de crianças excitadas com a aventura. Mas fiz-me mensageiro, levando para baixo documentos e dinheiro, a pedido da operadora do engenho.

Foi a primeira vez que me desloquei em algo assim. Com pena de não ter vindo a tempo de o fazer no cesto mais antigo e mais pitoresco, que agora se encontra depositado num relvado do lado oeste.

A base da Garrucha do lado da cidade é mesmo ao pé do nosso alojamento. Um convite claro para descansarmos um pouco no quarto fresco apesar de ainda pouco passar das nove da manhã.

O resto do dia foi pachorrento. Explorar as ruas que ainda não tinham sido descobertas. Há casas muito bonitas, cheias de história. Mas não é uma cidade muito amiga destas passeatas: é quente e extensa, com subidas e descidas que não sendo íngremes acabam por desgastar.

Almoço num local castiço. Um restaurante que parece a sala de jantar de uma família. Um alemão ou americano está lá, a acabar a sua refeição. Já tem uma certa idade e é daqueles que se perdeu, apaixonado, naquela cultura. Fala espanhol com a senhora, mas coitado, não tem muito jeito. Sente-se que se quer integrar mas o seu corpo é um obstáculo.

O almoço está mais ou menos. Pela minha experiência a comida na Colômbia não é fabulosa, oscilando entre o mau e o mais ou menos. Com algumas excepções claro. Além disso, a pagar 2 Euros por refeição não espero elevada qualidade. Foi uma refeição agradável, que tomei sozinho, com toda a calma do mundo. Sopa, e prato principal de carne, com um copo de sumo natural a acompanhar.

A seguir fui espreitar o interior da igreja e continuei a andar até estar demasiado cansado. Fui até à Garrucha. Tinha cismado que havia de ali beber uma cerveja na vendinha que existe ao lado. E correu bem. Uma Águila bem fresquinha, com boa vista e um livro.

Foi um dia em que não aconteceu muito mais. A fiesta mantinha-se na Colômbia, o que significava muita gente nas ruas destas aldeias históricas. A praça principal, fiel à sua função de congregação da comunidade, mantinha-se mais activa ainda, o epicentro de toda a actividade.

Com a chegada da noite ainda mais pessoas apareciam. Algumas a cavalo. É algo frequente nestas cidades rurais, mas na altura das festas ainda mais. Fazendeiros que vivem nos arredores descem à povoação montados nos seus cavalos e por vezes dão espectáculo. Faz parte. Neste dia mais do que um fazendeiro destacou-se UMA fazendeira, linda de morrer, um modelo de mulher, que com a sua criança montava um elegante cavalo, transmitindo já à nova geração a mestria da arte de bem cavalgar.

O jantar foi num pequeno e acolhedor restaurante vegetariano, com preços muito agradáveis e iguarias deliciosas. Foi uma excelente despedida desta simpática cidade que tão bem nos acolheu durante dois dias.

 

 

 

 

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