16 de Maio de 2025

O dia começou da melhor maneira: o pequeno-almoço não foi tomado no hotel mas sim no Chai Xana Shayda. Trata-se de um café que funciona como local de encontro para os militares e veteranos curdos, chamados de Peshmerga (“aqueles que enfrentam a morte”).

O café cede parte dos lucros às famílias dos combatentes caídos em combate e serve um pequeno-almoço fabuloso. Dos melhores que me lembro de ter tomado.

 

 

As paredes estão decoradas com fotografia dos mártires, com uma breve referência à data e local onde tombaram.

De barriga cheia e bem cheia começamos a rodar em direção a mais um dia de viagem. mas não será preciso muito até que chegue a primeira paragem. Num ponto insuspeito, sem mais nada em redor do que campos de lavra e um estradão de terra batida, encontra-se um longo mural. Aqui tira-se o chapéu ao guia. Um pequeno segredo escondido. É literalmente um mural, já que o que ali vimos é um longo muro. Todo decorado com temas da resistência curda. A viatura deixa-nos no início e avança para o fim, onde nos recolhe. Um bom momento.

Agora, a próxima paragem será em Amadiya. Uma localidade localizada num promontório inexpugnável. Verdade seja dita, o local é mais impressionante visto de uma certa distância, e para isso temos uma paragem para a fotografia.

Já na povoação paramos para uma visita à mesquita. Um passeio pelas ruas não impressiona. É mesmo um local para ser apreciado de fora. Paragem numa das portas históricas da aldeia fortificada, onde se vê uma pedra trabalhada que ilustra a figura de um rei da Antiguidade. Estamos no local cuja história remonta ao século VII.

A viagem prossegue até Barzan, uma pequena cidade, berço da tribo Barzani, que realisticamente controla o actual Curdistão iraquiano. Ali visitamos um museu que documenta a campanha de extermínio que o regime de Sadam conduziu sobre os Barzani.

Chega a hora de almoço e para minha infelicidade a paragem é para comer peixe. Imagino que, para um iraquiano, isso seja um grande petisco e algo para incluir numa tour. Para mim, como português, é banal. E depois vem o eu, o Ricardo, que não gosta de peixe. Por isso enquanto toda a gente dá ao dente, vou para um passeio e recolho umas fotografias da encantadora envolvência.

A paragem seguinte também não é para mim. Uma caverna onde foram encontrados importantes vestígios Neanderthais. Importante para a ciência? Sim. Relevantes numa viagem pelo Iraque? Humm acho que não. Ainda por cima estamos no pico do calor. Subir o trilho até à caverna? Nem pensar. Fico em baixo, relaxando, apreciando a evolução de um rebanho de cabras traquinas que por ali anda. Acabo por me sentar ao pé dos condutores, como eles esperando pelo regresso do grupo.

Vamos passando por uma zona mais densamente habitada, aldeias que se estendem ao longo da estrada. Ai! Tanta foto que aqui tirava se tivesse tempo! Imagens da vida quotidiana, maravilhoso. Por aqui vemos pequenos rebanhos de gado caprino, pastoreados por mulheres, como é costume na região, mulheres essas que usam os chapéus pontiagudos que são tradicionais nestas pastoras.

O dia rendeu, o plano foi cumprido dentro do horário previsto. Temos então tempo para visitar umas quedas de água transformadas em popular atração turística. Acorrem famílias inteiras, uma multidão que alimenta dezenas de pequenas lojas agrupadas ao longo da via que conduz ao curso de água.

A visita vale pelo quadro humano, pela observação do entusiasmo que aquilo causa nas pessoas. Está ali quase que uma feira popular. Restaurantes, cafés, souvenirs. O entusiasmo dos visitantes, crianças que trepam até onde podem. Mas não há muito tempo, a mera presença naquele local já foi como que um bónus. Temos que prosseguir, chega ao alojamento para a noite sem que seja demasiado tarde.

Este será um dia especial, vamos ficar num resort de cabanas, uma casa para cada um, um luxo. É um local estranho, com toques de Turquemenistão ou Coreia do Sul. Existem funiculares e coisas assim, algo deslocadas. O grupo janta num restaurante aberto. Eu, nem por isso. Um pequeno passeio nocturno pelas ruas desertas e nada mais. Um serão a usufrui do inesperado luxo.

 

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