18 de Maio de 2025
Depois de um pequeno-almoço sem história retomámos a estrada. Seguimos por um troço bonito, especialmente verde, uma paisagem pouco associada ao Iraque.
É cortada por cursos de água que a tempos criam belas cascatas. Espreitamos brevemente a de Bekhal e também a de Galio Ali Bag, a mais alta do país, que aparece retratada nas notas de cinco mil dinares.
Fazemos um par de pausas para apreciar estes vales cortados pelo rio. Nas margens da estrada surgem vendedores. Aqui, um abastecimento improvisado de combustível, sem bomba, consistindo apenas num sem número de garrafões. Mais adiante, à sombra de uma árvore, uma carrinha de caixa aberta repleta de legumes e frutas de cores vistosas aguarda por clientes.
Chegamos a um dos pontos agendados para esta manhã: a estrada de Hamilton. Esta via histórica foi construída entre 1928 e 1932 pelo engenheiro neozelandês Archibald Milne Hamilton sob mandato britânico. Liga a planície de Erbil aos vales e desfiladeiros junto à fronteira com o Irão. Ao longo do seu curso, a estrada atravessa cinco cadeias montanhosas, incluindo o famoso desfiladeiro de Rawanduz Canyon com suas paredes verticais e paisagens dramáticas.

Originalmente concebida como rota estratégica para o Império Britânico, a Hamilton Road mudaria de função ao longo das décadas, transformando-se em via vital para o comércio, o turismo local e a ligação entre vilas isoladas. A magnitude da obra, com vales profundos e curvas perigosas, fez dela um feito de engenharia para a época — e ainda hoje muitos consideram o percurso uma das mais belas estradas do mundo devido à sua integração com a paisagem selvagem e acidentada do Curdistão.
Contudo, uma boa parte da rota hoje conhecida como Hamilton Road é na realidade um novo traçado, criado como que paralelo à obra original. Mas o nosso guia sabe onde podemos tomar um pouco do sabor a coisa verdadeira. A carrinha detém-se junto a uma ponte pintada com as cores curdas, o verde, branco e vermelho.
Ali existe um pequeno complexo que noutros dias se encherá de gente mas que hoje está deserto. Serão cafés, restaurantes e outros negócios visando o turismo local.
Segue-se um pequeno passeio a pé, pisamos o solo da estrada original e disso eu gosto. É fácil imaginar o trânsito de outras épocas e ainda mais para trás o esforço dos trabalhadores sob a batuta exigente do neozelandês. Deixo-me ficar para trás, quero apreciar a quietude do local.
No fim a carrinha recolhe o grupo para mais um avanço no percurso. Haverá uma paragem para almoço, que tal como a refeição da manhã ficará sem história. De resto foi-se repetindo: o que há para comer? Kebab, ou kebab.
Depois do almoço completa-se a jornada, com uma tirada até Sulaymaniyah, a segunda maior cidade do Curdistão Iraquiano.
Sulaymaniyah, ou Slemani como os locais chamam, é uma das cidades mais animadas da região. Cercada por montanhas e vales verdes, mistura as paisagens com uma energia urbana que surpreende.
O coração da cidade pulsa nos cafés, restaurantes e mercados. O bazar de Qaysari, por exemplo, é um lugar perfeito para sentir a cidade: cheiros de especiarias, barulho de vendedores e uma mistura de produtos tradicionais com souvenirs modernos. E é precisamente aqui a primeira paragem. Acontece uma espécie de “tempo livre”, com uma hora de encontro para recolha e ida para o hotel.
Comecei pelo bazar. Talvez tenha perdido a essência do local, mas achei-o pobre, para quem visita do estrangeiro. Foi uma vista de olhos rápida, até porque tinha em mente algo diferente: à chegada ao centro da cidade fiquei cativado por um longo mural, executado na perfeição, e apesar de um pouco longe queria mesmo vê-lo de perto e fotografar.
Dois quilómetros para cada lado, vou ter que ser rápido. E assim me deitei ao caminho com passo acelerado. Chegado ao mural – chamado de Parede de Salim – deliciei-me com os temas ilustrados e a magnificência das pinturas. As pessoas que de tempo a tempo passavam diante da parede ofereciam um sentido de escala muito interessante às imagens que ia recolhendo.
Mas o tempo não parava e não podia chegar atrasado ao ponto de encontro. Iniciei o caminho de regresso, desta vez parando aqui e acolá para observar pontos que me chamavam a atenção. Explorei brevemente um edifício abandonado, vi o exterior do Museu de Sulaymaniyah e as estátuas loucas no jardim do Culture Factory. Decididamente esta cidade tem uma cena cultural fervilhante.
Acabei o passeio no jardim central, basicamente no ponto de encontro, onde fui encontrando outros elementos do grupo. Foi um bom fecho desta pequena escapadela. Há uma mão cheia de detalhes interessantes, e a própria multidão de locais que depois das horas de trabalho ali se dirige seria suficiente para justificar a visita. Excelente atmosfera!
O hotel foi uma decepção. Afastado de tudo, frente a uma estrada ruidosa e com diversos problemas menores. Duas noites ali. OK.
O grupo foi ver o pôr-de-sol a um local elevado. Dizem que foi excelente, mas eu fiquei a descansar. Também passei o jantar.










