Quem se lembra dos Monthy Python, esse grupo de comediantes britânicos que tanto sucesso tiveram nos anos 70 e 80 do século XX? Um dos seus membros mais proeminentes era Michael Palin, que depois se distinguiu na área das viagens devido às produções da BBC que o tinham como figura central. Foram nove filmes documentais e New Europe foi um deles.
Sucede que em diversos desses filmes (senão todos), Michael Palin tomou notas suficientes para dar origem a livros publicados no Reino Unido, com a narrativa a seguir sensivelmente o mesmo guião que o respectivo filme.
E foi assim que surgiu esta edição britânica da Weidenfeld & Nicolson, onde poderemos seguir a descoberta de uma nova Europa que se ajustou e se recriou após a queda do Muro de Berlim e da implosão da União Soviética.
Ao longo das suas quase trezentas páginas, Michael Palin viaja por toda aquela Europa que se estende para leste da Alemanha, incluindo uma parte da Turquia e as áreas da antiga DDR – Deutsche Demokratische Republik.
Parte com dois objectivos: percorrer uma parte do mundo que não tinha ainda sido coberta nos seus programas e redescobrir uma Europa dinâmica, em reformulação, com países jovens e perspectivas para um futuro novo.
A leitura prossegue em bom ritmo. Prosa agradável, descrições e experiência cativantes. O ritmo parece seguir em crescendo, com um arranque menos bem conseguido, passagens entre paragens e fronteiras contadas de forma superficial, de corrida, sem profundidade. Mas a escrita vai-se intensificando. Felizmente transforma-se e melhora claramente, tornando-se verdadeiramente interessante.
Tocou-me especialmente. Porque é uma Europa que me interessa. Primeiro, como alguém que cresceu sob o espectro da Guerra Fria que desenhou toda aquela extensa porção do nosso continente. Segundo, como viajante que fui, andando por ali apenas um pouco mais tarde do que Palin, vendo países que hoje se tornaram em outras realidades, evoluindo, apagando ou atenuando as cicatrizes lavradas por essa época conturbada. Terceiro, pelo interesse especial que toda essa região me desperta, de uma Europa que toca a Ásia, uma Europa misteriosa, de culturas mais distantes, de uma história riquíssima.
Fiquei especialmente bem impressionado pelo trabalho de investigação e pela cultura geral do autor. Ao longo de todo o livro apenas me apercebi de uma passagem factualmente menos correcta. Pela negativa, a falta de profundidade com que algumas das zonas visitadas são abordadas. E mesmo quando Palin se detém por mais páginas em determinado país ou região senti mesmo assim a falta de mais qualquer coisinha, de mais substância.
Em suma, uma leitura talvez demasiado leve, algo trivial, mas agradável. Uma boa introdução à literatura de viagem especialmente indicada para quem tem um interesse específico nestas paragens da Europa.