A Ryanair anunciou no dia 20 de novembro de 2025 que vai encerrar todas as suas operações de/para os Açores a partir de 29 de março de 2026, alegando que os custos aeroportuários são insustentáveis.
Segundo a companhia, as taxas definidas pela ANA (operadora dos aeroportos portugueses, controlada pela Vinci) tornaram-se demasiado elevadas, e ao mesmo tempo o Governo português falhou em intervir.
No comunicado oficial, a Ryanair afirma que “o monopólio aeroportuário francês da ANA continua a aumentar as taxas aeroportuárias portuguesas para encher os seus bolsos, à custa do turismo e do emprego em Portugal – particularmente nas ilhas portuguesas”. Como consequência desse aumento de custos, a empresa diz que não teve alternativa senão “cancelar todos os voos para os Açores… e realocar esta capacidade para aeroportos de menor custo noutros pontos na vasta rede do Grupo Ryanair na Europa.” A companhia estima que serão perdidas seis rotas e cerca de 400 mil passageiros por ano.
A Ryanair acusa ainda a UE de penalizar regiões remotas como os Açores com taxas ambientais injustas. No mesmo comunicado, aponta para o sistema ETS (regime de comércio de emissões da UE) como particularmente prejudicial, porque se aplica a voos intra comunitários para ilhas como os Açores, enquanto voos de longo curso mais poluentes para os EUA ou para o Médio Oriente ficam de fora.
“A competitividade de regiões remotas europeias – como os Açores – está a ser danificada por estas taxas”, afirma a empresa, que pede à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que promova mudanças para tornar essas taxas mais justas. A Ryanair considera que o sistema atual não protege suficientemente regiões insulares vulneráveis e exige tratamento equivalente ao de outras zonas da União.
A decisão da companhia gerou preocupação no setor turístico açoriano. O papel das rotas da Ryanair era central na estratégia de crescimento do turismo de baixo custo nas ilhas, e empresários do alojamento local mostram-se apreensivos quanto à perda de conectividade e ao impacto económico para os Açores.
Para muitos, a saída da Ryanair representa uma ameaça à sustentabilidade do turismo, sobretudo nas épocas mais baixas, quando as rotas de baixo custo são fundamentais para atrair visitantes e manter a ocupação hoteleira.
Do lado do Governo Regional dos Açores, há já vozes a lamentar a decisão. Alguns apontam para a necessidade de negociar com outras companhias para repor as ligações perdidas, enquanto outros criticam a falta de ação efetiva por parte do Estado português no que toca à regulação das taxas aeroportuárias e à proteção da conectividade insular.
A Ryanair, por seu lado, responsabiliza diretamente o Governo pela sua “inação” e por permitir que a ANA pratique taxas elevadas sem concorrência, sobretudo numa economia insular tão dependente da aviação de baixo custo.
A empresa também sublinha que a sua decisão afeta rotas para cidades importantes como Lisboa, Porto, Londres e Bruxelas, todas ligadas aos Açores nos seus itinerários. Segundo a Ryanair, parte da capacidade será redirecionada para aeroportos europeus mais baratos, onde as taxas são menores e os custos operacionais mais controlados.
Este anúncio marca o fim de uma década de operações regulares da Ryanair no arquipélago – a companhia tinha presença constante nos Açores há cerca de dez anos. A saída programada sublinha um conflito mais amplo entre operadoras low cost, autoridades aeroportuárias e reguladores europeus, onde as decisões financeiras das companhias têm impacto direto nas economias insulares e no mercado turístico local. A perda anunciada da Ryanair pode implicar não apenas menos voos para os Açores, mas também uma subida de preços e menor diversidade de oferta aérea, tornando a região menos acessível para muitos viajantes.
