16 de Fevereiro de 2025

Sempre regressámos a Shiban. O Jamal tinha razão, já que passamos à porta o melhor é parar para uma visita mais detalhada. Afinal é o ponto forte da viagem, pelo menos em teoria. Não vou descrever de novo o que vi na véspera. Deu para tirar mais umas fotografias, reparar em pormenores, enfrentar de novo o vendedor persistente, observar as ricas portas de algumas casas e entrar numa espécie de museu vazio para ver por dentro como são estas apartamentos de paredes de adobe.

Prosseguimos caminho em direcção à costa do mar Arábico, parte do oceano Indíco. O destino será a cidade costeira de Al Mukalla. Mas para o dia seguinte. Hoje dormiremos algures a meia distância, num local chamado Haid Al-Jazil.

Alhajrain à vista!

Este troço é muito fotogénico. As montanhas acompanham o asfalto, de um lado e de outro. Surgem alguns oásis, zonas muito verdes, bafejadas pelos escassos recursos hídricos do país, criando zonas de exploração agrícola e bonitos palmeirais.

Vêem-se pequenos rebanhos pastoreados por mulheres, algumas delas envergando o chapéu característico destas paragens, de palha, em forma cónica sobre a aba, muito alto.

Paramos para um passeio em Alhajrain, que logo à distância espalha o seu charme. Na aldeia as crianças acabaram a escola e envolvem-nos com a sua alegria natural. O nome de Cristiano Ronaldo opera maravilhas entre os pequenotes, que seguem as peripécias do futebol mundial.

A povoação é maravilhosa, atmosférica, com gentes simpáticas. Apertados pelo tempo não podemos demorar muito. Os alunos seguem o nosso grupo, sempre bem educados, sem desvarios, só observando quando não metemos conversa com eles.

As meninas também, mais reservadas mas mesmo assim muito interessadas. Muitas já cobrem a cara, enquanto as mais novas ainda mostram cabelo e face.

Em Shiban

Uma e outra vez somos surpreendidos pela beleza árida das aldeias que se perfilam ao longe, quase sempre no sopé da montanhas ou, em alguns casos, a meia encosta. Toda a região se encontra pintalgada por estas povoações num conjunto que poderia muito bem ser classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.

Paramos uma e outra vez para admirar estas aldeias. A de Sif é de referir, com o seu palácio imponente que se ergue na vertical, sobre um promontório, controlando o acesso.

A de Al Quirrah é especialmente bonita, mas infelizmente o sol está baixo, mesmo por detrás dela, e as fotografias não poderiam ficar grande coisa.

Mais à frente, no final dessa estrada, encontra-se Al-Khuraybah. Ali a festa vai valente. Ouve-se música, chegam carrinhas e táxis, motorizadas, carros particulares, gente a pé. Paramos ali, não se pode prosseguir. Podemos ver a aldeia de perto mas mesmo assim de fora.

Três meninos aproximam-se da estrada conduzindo um burrinho. As pessoas ali são especialmente hospitaleiras e sociáveis. Muita gente fala conosco, no inglês possível. A pergunta é sempre a mesma: de onde somos.

O ambiente está extraordinário mas temos que prosseguir viagem. É importante chegar ao alojamento ainda antes do pôr-de-sol.

O Jamal diz-nos que as raízes de Osama Bin Laden se encontram esta aldeia, o seu pai é dali. E aponta-nos a casa onde viveu.

Temos que prosseguir, chegar a Haid Al-Jazil. Olhando para o ecrã do meu telemóvel não compreendo o entusiasmo com este local. Mas à chegada tudo se esclarece. Cai o dia, o sol põe-se. O cenário é inesquecível. Deserto rochoso a perder de vista e sob os nossos pés, mesmo em frente ao olhar, uma alta ilha de pedra ergue-se do fundo do wadi e no topo, ocupando toda a plataforma, existe uma aldeia.

Ali, no “resort”, encontra-se um pequeno grupo de viajantes, um deles um português. O mundo é pequeno. Já nos conhecíamos de uma troca de correspondência electrónica de há uns anos.

Conversamos um pouco enquanto apreciamos a paisagem incrível que temos diante de nós.

Mais tarde o jantar seria ali mesmo, na sala de refeições do resort. Depois, o sossego do quarto para o serão, embalado pelos tambores que se ouvem. É uma festa privada de um dos senhores de tudo aquilo, um filho da família mais poderosa da região que vive agora na Arábia Saudita, onde se encontram quase todos os yemenitas de posses.

 

 

 

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