No penúltimo dia do mês de Setembro tornou-se público o encerramento da companhia aérea islandesa Play. De forma súbita e com contornos de pesadelo para todos os passageiros deixados em terra sem aviso prévio.

A companhia, fundada em 2019 para ocupar o espaço deixado pela falida WOW Air, operava num modelo de baixo custo, ligando Reykjavík a destinos europeus e norte-americanos, mas nunca conseguiu atingir a rentabilidade esperada. Apesar de alguma expansão inicial e de uma frota moderna, a empresa enfrentou baixa procura em determinados mercados e receitas insuficientes. Em Setembro de 2025 Anunciou abruptamente o encerramento das operações, cancelando todos os voos e deixando passageiros retidos. O seu colapso foi um duro golpe para a conectividade da Islândia, que tinha voltado a depositar esperanças num projeto de low-cost internacional.

O comunicado de encerramento da companhia chega a ser patético, pelas causas indicadas. Que se terminasse o projecto poderia fazer sentido, mas não assim:

O Conselho de Administração da Fly Play hf. decidiu cessar as operações. Todos os voos da companhia foram cancelados. A empresa irá colaborar estreitamente com as autoridades e com os colaboradores para implementar as medidas necessárias ao encerramento das operações.

Existem várias razões para esta decisão, incluindo: o desempenho da companhia foi durante muito tempo inferior ao esperado, as vendas de bilhetes foram fracas nas últimas semanas e meses devido à cobertura negativa dos meios de comunicação sobre as suas operações, e houve descontentamento entre alguns colaboradores devido a alterações na estratégia da empresa.”

Já no passado a  WOW Air tinha sido o rosto mais visível da aviação islandesa após a crise de 2008. Fundada em 2011, cresceu rapidamente graças a tarifas muito reduzidas e à localização estratégica da Islândia como escala entre Europa e América do Norte. No auge, transportava milhões de passageiros por ano e chegou a ser vista como rival direta da Icelandair. Contudo, a estratégia de expansão agressiva, baseada em margens estreitas e endividamento elevado, revelou-se insustentável. Em março de 2019, depois de falhadas negociações de financiamento, a companhia declarou falência de forma repentina, cancelando todos os voos e deixando milhares de viajantes retidos. A falência da WOW expôs os riscos do modelo ultra low-cost num país com população limitada e forte dependência de fluxos turísticos variáveis.

Em 2023 foi a vez da Niceair, uma companhia virtual com sede em Akureyri, no norte da Islândia. O projeto pretendia dinamizar aquela região, ligando-a a cidades europeias através de uma única aeronave alugada. Apesar do entusiasmo inicial, a empresa rapidamente enfrentou dificuldades: problemas contratuais com a operadora da aeronave e fraca sustentabilidade económica. Em abril suspendeu os voos e, um mês depois, declarou insolvência. O caso mostrou como iniciativas regionais, embora bem-intencionadas, têm enorme dificuldade em manter operações estáveis sem escala suficiente.

Também a histórica Eagle Air, que durante décadas serviu rotas domésticas e destinos na Gronelândia, acabou por encerrar. Em 2024, debilitada pela concorrência e pela redução da procura, declarou falência e foi posteriormente absorvida pela Mýflug. A sua saída marcou o fim de uma das companhias islandesas mais enraizadas na aviação regional.

Em conjunto, estes episódios ilustram como o setor aéreo islandês, vital para a mobilidade e para o turismo, permanece exposto a choques externos e a modelos de negócio frágeis, dificultando a sobrevivência de novos operadores a longo prazo.

Que tudo isto faça reflectir os meus compatriotas dados a eulogismos irreflectidos sobre as maravilhas da governação islandesa, tantas vezes apontada como um exemplo.

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