Dia 14 de Janeiro de 2020, Terça-feira

Este será o último completo na Colômbia, um país que pela segunda vez deixará saudades e onde tentarei regressar.

Continua no ar a questão: tentar subir a Montserrat ou não? Aquelas filas matam-me. Não suporto filas e há pouca coisa que me convença a ficar numa. E custa dinheiro. À escala colombiana é mesmo uma verba considerável. 21.000 COP. Cerca de 7 Euros para a ida e volta. Já se verá.

Começo pela casa de Simon Bolivar em Bogotá, um encantador abrigo usado pelo patriota venezuelano que ali passou uma pequena parte da sua vida. A casa encontra-se rodeada por um bem cuidado jardim e há uma adequada música a piano a tocar como pano de fundo. O ambiente de época é assim bem realçado.

Somos as primeiras pessoas a entrar na casa. Ali se observam as diversas salas, tal como seriam quando por estas lajes andou El Libertador. Há o seu quarto, a sala de jantar, adicionada posteriormente, num pavilhão anexo à estrutura original. Sala de estar, escritório. Casa de banho é que não que, como me explicou a senhora segurança, naquele tempo não era costume. Havia os penicos, para a noite, e durante o dia ia-se simplesmente aos matos. O que achei estranho, considerando que já naquela altura havia o formoso jardim que hoje podemos ver e que se tratavam de pessoas da mais elevada casta social. Mas pronto, a verdade é que não existem casas de banho.

Mas existe a dispensa, a cozinha, o quarto que se acredita ter sido atribuído ao fiel criado e mordomo de Simon. Os jardins são magníficos e, explorando-os, encontramos um tanque onde se ia a banhos, com um terraço de onde aquela ilustre gente se deleitaria com as vistas sobre a cidade e os cerros envolventes.

Creio que quando aqui estive há quatro anos a entrada era gratuita. Seja como for, o bilhete custa 4.000 COP. 1,20 Euros.

Apesar de interessante trata-se de uma casa pequena que é rapidamente visitada. Encontra-se próximo do ponto de partida do teleférico e do funicular para Montserrat. Vamos lá então. Será hoje até porque é bem cedo. mesmo assim já havia uma pequena fila, mas nada de dramático.

Bilhetes comprados e logo estávamos a caminho. Emocionante. Tinha ficado com isto por fazer em 2016 e agora estava a acertar contas. Além disso nunca tinha trepado por uma montanha acima desta forma. É íngreme. Não diria que há adrenalina, não chega a tanto, mas é um daqueles cada vez mais raros momentos em que experimento uma sensação nova.

À medida que a ascensão progride tenho uma melhor noção das vistas que são enfim encobertas quando a cabine repleta de gente entra no túnel que marca a aproximação final ao terminal superior.

Lá em cima ainda há pouca gente. Foi muito bom termos vindo cedo. A vista sobre a cidade é impressionante. Avistam-se todos os bairros, quase até ao infinito. Mesmo o aeroporto, que parece tão distante quando se faz a viagem, está mesmo ali, quase ao alcance da mão.

Há vistas de estudo, famílias, gentes sozinhas, grupos de amigos, casais de namorados, crianças que brincam. Do fim do trilho pedestre que sobe desde o centro da cidade emergem pessoas sem parar. Até uma equipa inteira de futebol. Apesar de ser uma subida dura, longa e íngreme, há crianças que chegam a pé.

Sente-se um ambiente festivo, de felicidade. Afinal, estamos rodeados de colombianos, é normal.

Há uns quantos restaurantes lá em cima, a igreja do santuário, os terminais de teleférico e funicular e muitas lojas de recordações. Aliás, à volta comprarei ali um saco de levar ao ombro que me acompanhará fielmente nos dois meses seguintes. Muito prático e funcional.

Seguimos as pessoas e vamos para a extremidade oposta da cumeada. Uma zona mais em bruto, com pedra e trilhos de terra batida. Aqui não chega muita gente. Há uma tasca adorável, improvisada, para a qual são descarregados abastecimentos de uma mula que pouco depois, conduzida pelo dono, inicia a descida por um qualquer caminho de montanha.

Ainda penso em beber uma cerveja na tal tasca, mas o jejum de álcool que me impus em honra de um fígado castigado ao longo de décadas e a música demasiado alta que ali tocava fizeram-me desistir.

Vou deixar para trás aquele local que tão positivamente me surpreendeu. Estava à espera de um ambiente muito religioso, de peregrinos, um pouco como em Fátima, e afinal encontrei algo diferente. Adorei subir a Montserrat.

No regresso, já em cima da hora de almoço, nota-se menos gente por ali. Para descer nem havia fila. Ainda tentei encontrar uma geocache mas sem sucesso. Ah mas encontrei uma do lado oposto. Menos mal.

A descida foi rápida mas apesar de ter um ângulo melhor já não fiquei tão impressionado como na subida. A primeira vez é sempre mais marcante.

Caminhámos até ao hostel atentos às opções de almoço. Com alguma tristeza notei que todas as tasquinhas onde em 2016 tão bem comia tinham encerrado, substituídas por restaurantes sofisticados e cosmopolitas com preços a corresponder.

Nem um sobrou, pelo menos que tivesse encontrado. Assim optámos por um restaurante literalmente na porta ao lado do hostel. Foi uma boa escolha e quando o senhor explicou que determinado prato que não conhecia era carne desmechada apenas com outro nome os meus olhos brilharam. Era isso mesmo, e que boa estava. Foi uma refeição magnífica, incluindo sobremesa.

A famosa carne desmechada de que tanto gosto!

Na hora da despedida não correu tão bem, com alguns items adicionados à conta, mas aceitei as explicações… pois… mais IVA, mais taxa de serviço… OK, pode ser que não seja por eu ser estrangeiro. Pode ser.

E que fazemos agora? Olha vamos ao Museu Nacional. Consegue-se caminhar até lá. É um bom passeio, pela rua mais concorrida de Bogotá, cheia de vida em qualquer dia da semana.

Continua cheia de vendedores, artistas de rua e transeuntes. Parece que hoje há ainda mais jogadores de xadrez, alguns reunindo uma multidão atenta em seu redor.

Antes do Museu Nacional contudo, uma outra paragem, no pequeno Museu da Independência, na esquina da praça Simon Bolivar. Também este, penso, era gratuito anteriormente, mas o preço é mesmo assim simbólico. Uma visita que aconselho.

O Museu Nacional está instalado numa antiga prisão, rigorosamente requalificada para as novas funções e tem uma colecção interessante e extensa. Ao contrário de quase tudo em Bogotá, gostei mais de o visitar agora do que na anterior passagem pela cidade.

Pareceu-me mais diverso, apesar de certamente ser o mesmo. Havia pessoas a mais, muita gente mesmo. É bom ver a população comum abraçar assim a cultura mas prejudica um pouco a experiência da visita.

E pronto. O dia foi isto, assim. Acabou cedo porque havia bastante cansaço acumulado nas pernas. Regressar a pé do museu já foi um esforço considerável. Ainda nos sentámos nos degraus da catedral a observar a multidão, ao som do Carlos Gardel de sempre, que na altura eu ainda nem sabia que cantava Carlos Gardel.

Um último esforço nos era pedido: é que queríamos mesmo fazer uma despedida da Casa Galeria, onde no seu café existem tantas coisas yummy para comer e beber. Já tinha experimentado há quatro anos atrás e está igualzinho. Excepto os preços, mesmo assim muito bons. Desta vez pedi um sumo de amora e um doce de natas. Para minha enorme surpresa, o doce de natas é feito de natas mesmo. Daquelas que quando se fervia o leite caseiro ficavam por cima à superfície. Outra coisa que recomendo é o bolo de sementes de papoila. Simples mas agradável.

E agora para casa. Ler um bocado, até o cansaço me mandar para a cama. E lá, mais um par de horas, a fazer não sei bem o quê, até ser um tempo decente para dormir.

O serão foi tranquilo, a ler e trabalhar um pouco no hostel.

Esta é a parede do hostel onde fiquei em 2016

 

Para terminar, fica aqui a melhor vista do topo do santuário, em modo de imagem panorâmica:

 

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