Dia 23 de Fevereiro de 2020, Sábado

Acordei cedo como se impunha. Afinal de contas tinha um autocarro para apanhar. Dia de prosseguir viagem, agora rumo à Argentina. Tomei o pequeno-almoço num hostel onde todos ainda dormiam, peguei na mochila e saí.

Fiz a caminhada até à estação de autocarros. Havia muitos passageiros por ali. É uma estação pequena, não há que enganar. Encostei-me a um canto e esperei pelo meu autocarro para Salta. Passou a hora marcada, nada. Continuei a aguardar. Um atraso, acontece. Mais quinze minutos e ainda nada. Chega um autocarro, não é o meu, mas leva toda a gente que ali estava. Meia hora depois começo a ficar preocupado. Pergunto a um funcionário que ali andava. Diz-me que o meu autocarro já se foi. Mas como já se foi, estou ali desde bem antes da hora de partida. E depois, numa fracção de segundo, compreendo tudo.

Estou na hora boliviana. O Chile está uma hora atrás! Agora, não pensem que fui incauto. Não, perguntei no hostel e as duas pessoas, a simpática brasileira e o outro recepcionista, disseram-me que a hora era a mesma. Mas não era. Adeus autocarro.

Regresso para o hostel com uma certa irritação. Toco à porta, abre o proprietário, pergunta-me se está tudo bem, digo que não, e conto-lhe o que aconteceu. Ele faz cara de santo, como quem diz, “pois, mas não tenho nada a ver com isso”, e desaparece. Fico ali sentado na recepção e passado um bocado a brasileira vem falar comigo.

Ficou atrapalhada claro. Foi mesmo um disparate. Diz que o outro moço que é local disse com tanta certeza que ela limitou-se a confirmar. E agora não há mais nada a fazer. Oferece-se para ajudar a pagar o novo bilhete. Não é necessário, digo eu, tudo bem, acontece. Mas peço uma noite de estadia gratuita, já que terei que ficar para o dia seguinte em San Pedro de Atacama. Ela verifica a tabela de reservas e confirma. É a última cama disponível, posso ficar.

O resto do dia passo-o em doce ócio, com a irritação a desvanecer-se. 40 Euros. Paciência. Ainda passarei pelo escritório da companhia de autocarros mais tarde. A senhora fica triste mas não pode fazer nada, as regras estão bem definidas.

Volto ao centro, vou ao meu amigo dos câmbios, troco mais dinheiro para o novo bilhete e para comprar qualquer coisa para comer. Regresso ao escritório, bilhete para o dia seguinte adquirido.

No regresso paro na mercearia. Descanso no hostel, leio naquele ambiente pachorrento com calor e sombra, um daqueles dias em que não apetece fazer nada.

Ao serão o pessoal do hostel organiza um churrasco para todos. Sou convidado, como os outros hóspedes. Boa onda. Faz-se uma fogueira, fico por ali um bocado. Mas uma vez mais sinto-me deslocado. Não sei quando, mas comecei a sentir-me deslocado neste ambiente de hostel, feito sobretudo de histórias fúteis, de massagens de ego, de conversas a puxar para o pueril. Falei um bocado com uma moça brasileira e fui para o quarto.

A ver se no dia seguinte consigo então sair de San Pedro de Atacama e chegar a Saltam na Argentina.

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