Dia 5 de Março de 2020, Quarta-feira

E aqui estou eu, pronto para mais uma longa viagem entre locais, uma banalidade na América do Sul.

A primeira etapa é chegar do hostel até Posadas, do outro lado do rio e já na Argentina. O Álvaro tinha-me aconselhado o autocarro para lá. Simples e directo dizia ele. Os relatos que li em blogues de viagem não descreviam a travessia como simples e directa, bem pelo contrário. Daí ter pensado em apanhar o comboio, que tem o inconveniente de partir longe do centro e do hostel.

Mas com tanta insistência, apesar de pouco convencido, mudei o plano e decidi dar uma oportunidade ao autocarro. Tinha visto de onde partiam, junto à praça da estação rodoviária, e tinha até visto um deles a carregar passageiros.

Cheguei lá, não estava ninguém à espera. Esperei eu, então. E esperei, e esperei. Como já não ia muito convicto, comecei a sentir comichão e então passou um autocarro a abrir, em frente à paragem, sem parar. Só tive tempo de lhe dizer adeus. Pareceu-me ser o autocarro para a fronteira. OK, decidido, voltar ao plano inicial.

Chamei um Uber e para a estação de comboios. Simples. Agora sim. Comprar bilhete, esperar. O comboio é pendular, anda para lá e para cá sem parar. Chega um, entro. Logo se põe em movimento suave, passando a ponte e chegando à Argentina. A fronteira é super fácil de passar e extremamente amigável.

Em menos de nada estou na Argentina, no exterior do posto de fronteira, na paragem de autocarro que há ali defronte. Há outras pessoas à espera. Pergunto a um polícia antipático se o autocarro que vejo lá ao fundo pronto para recolher as pessoas passa no centro e no terminal rodoviário. Sim.

Afinal todas as outras pessoas foram noutro e naquele segui sozinho, como se fosse um táxi privado gigante. Só mais tarde, depois de muitas voltas, começaram a embarcar mais passageiros.

Posadas é uma cidade estranha, parece artificial, não tem um centro histórico, é toda ela funcionalidade e é grande e moderna. Tem 325 mil habitantes. Parece uma cidade europeia.

No terminal rodoviário tenho que mudar para um outro, ao lado, para as viagens de longo curso. Compro a passagem para Puerto Iguazu no escritório da empresa Crucero del Norte. A uma menina linda, linda de morrer.

Infelizmente vou ter que esperar um bom bocado até à próxima partida. Mas tenho direito a um lounge VIP com amplas poltronas de cabedal, Wi-Fi e ar condicionado. Poltronas essas que me apresso a devassar, quando me sento em cima de um copo de salada de frutas que, junto com outras coisas, comprei numa loja do terminal para tomar de pequeno-almoço.

Uma cena um bocado embaraçante. Além da poltrona os meus calções fiquem como se tivesse feito o tal xixi nas cuequinhas. Felizmente não está ninguém no lounge e com guardanapos de papel consigo repor uma espécie de normalidade naquele sofá.

Aproxima-se a hora de partida, vou para a plataforma e depressa estou instalado no autocarro. Agora são 310 quilómetros sem história. Uma viagem desagradável, numa viatura relativamente desconfortável e pelo meio de uma paisagem que não me motiva grande interesse.

Chego a Puerto Iguazu a meio da tarde. Gostei. É claro que é um local muito turístico, que basicamente existe para servir de base à visita às quedas de água de Iguazu. E por isso mesmo é um local simplificado. Onde tudo está preparado para satisfazer as necessidades do viajante. Preciso de lavar a roupa? É logo numa lavandaria encostada ao terminal. Comer um gelado? Há. Comer uma pizza? Sim. Trocar dinheiro? Claro. Supermercado? Também. Transporte simples para as quedas de água? A toda a hora. Para o aeroporto? Igualmente.

Uma série de restaurantes, cafés e bares. Muitas opções. Para mim é um oásis. Faz-me lembrar assim Albufeira, mas sem os bárbaros britânicos. Soube-me bem passar aqui uns dias.

Caminhei umas poucas centenas de metros até ao hostel El Guembe. Com toda a oferta foi um desafio escolher o alojamento, mas mais uma vez foi em cheio. Por um preço baixo, um hostel que até tinha uma piscina! E bom ambiente, de hostel. Gostei.

Já estou instalado e agora vou sair um pouco. A lavandaria é cara. Fico a pensar. Recolho informações no terminal sobre os autocarros para as quedas de água e para o aeroporto. Tenho um voo para Buenos Aires a partir daqui.

Logo a seguir sou interpelado por um cambista. Conversamos um pouco. A taxa não é má, muito melhor do que me propuseram na bilheteira dos autocarros e da que se pratica nas casas oficiais. Pergunto-lhe se vai estar por ali, que quando vier para cima fazemos negócio.

Vou passeando. Está-se bem, estou feliz e sinto-me fisicamente em forma. Desço a longa avenida ladeada de moderno comércio. Chego a um largo. Continuo com a ideia que estou na Europa. Parece o Algarve, sem o mar. Podia ser Carvoeiro ou Alvor, mas é Puerto Iguazu.

Encontro uma geladaria e adoro logo os preços. Compro um gelado enorme por 3 Euros. Fico a comer, lá sentado, a observar os clientes que entram e saem.

Vou regressando. Paro num supermercado de…. libaneses. É caro, mas terá que ser, não há outra opção por aqui. Compro alguns abastecimentos para os dias seguintes, algo limitados pela minha capacidade de carga. Depois voltarei para reforçar.

Encontro o cambista e fazemos negócio, com uma certa choradeira por só estar a trocar 60 Euros e não os 100 Euros de que lhe tinha falado.

Agora vou descansar, que o dia foi longo, Mantenho-me no hostel até à hora de dormir.

 

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