Terceiro dia em Léon e uma certeza: atribui demasiado tempo desta viagem para esta cidade. Gostei de Léon, sim, mas aquela sensação ao chegar manteve-se: depois de Granada, é uma decepção, e se a experiência da visita foi positiva, haverá certamente outros locais nesta magnifica América Central onde poderia ter passado melhor tempo. Mas pronto, foi assim. Era preciso então pensar os próximos passos, e esses queria-os na direcção de El Salvador. Só tinha um problema: a Nicarágua não tem fronteira com El Salvador. Para chegar a este pequeno país seria necessário cruzar um pedaço das Honduras. Portanto, a ementa para a jornada seguinte seria uma correria de dia cheio, saindo da cama a meio da noite para iniciar a longa travessia que incluiria duas passagens de fronteira e quatro autocarros. Uma aventura.
O transporte do hostel para o terminal de autocarros ficou assegurado. É verdade que podia ir a pé, como tinha vindo para cá. Mas às quatro da manhã, não apetecia. Nem sabia até que ponto era boa ideia, do ponto de vista da segurança, como certamente não apeteceria um esforço adicional daquele género. Perguntei ao tipo da recepção como é que era para apanhar táxis. Ele disse que não havia problema, era só esperar na rua… o que não me convenceu, porque já tinha visto que não havia assim tantos táxis e menos certamente haveria a meio da noite. E então o tipo disse que se quisesse me podia levar ele próprio, no seu veículo… que era um riquetó. Ficou combinado.
Saí então para a rua. Queria fazer uma coisa específica: subir ao telhado da catedral, que não é bem um telhado, é mais um terraço com interessantes “borbulhas” que mais não são do que as cúpulas do espaço interior em modo invertido. Entra-se por uma porta discreta, no flanco do edifício, mas antes tem que se comprar o bilhete, que não é nada caro e vale a pena.
Lá em cima, uma jovem simpática pede ao visitante para se descalçar e se desejado oferece uma protecção para os pés, que dispensei com um sorriso de reciprocidade. Ouvi uma breve história e algumas instruções de segurança e saí para o terraço. Foi daqueles momentos que parecem tão banais e contudo se revelam tão agradáveis. Na realidade foi de longe o melhor momento em Léon. Todo aquele branco tem um efeito sobre o espírito. Ainda para mais com um céu lindo, azul, temperado com umas quantas nuvens.
Andei por ali às voltas, feliz, a ver as vistas em redor da catedral. Lá em baixo o mercado de comida, a praça e mais ao longe as outras grandes igrejas de Léon. Deitei-me, estiquei-me, absorvi o momento. Estavam lá algumas pessoas, outros visitantes, mas a sua presença não interferiu com a minha magia. Estavam também na deles, sem invadir o meu espaço espiritual.
Precisei de um bom bocado para me saciar e quando isso aconteceu lá desci, não sem antes observar os belos sinos, mesmo ali ao meu alcance.
Passei então para o interior da catedral, algo que faço muito raramente. Não sou muito dado a espaços religiosos, mas depois da experiência lá de cima decidi dar uma vista de olhos no interior, e consegui até umas boas fotografias.
E foi isto o dia, por assim dizer. Como na véspera foi feito de preguiça, tempo no hostel comida e cerveja. Entretanto tinha feito amizade com um companheiro de dormitório, o Hernán, argentino, que viajavam com uma guitarra especial, não sei, não percebo muito de instrumentos musicais, mas era algo de diferente. E com ela tocava e cantava belas baladas, para ele próprio, quando estava sozinho… mas eu ouvia. Descobrimos que poderíamos viajar juntos no dia seguinte. Ele estava um bocado ao sabor do vento e quando soube que eu ia para San Salvador combinou-se irmos juntos. Ele tinha pensado em usar o autocarro de luxo, da Tica Bus, uma empresa omnipresente nesta parte da América Central, muito usada pelos “gringos”. São caros! Para mim estava fora de questão, por tudo. Pelo dinheiro, por me recusar a pagar um valor tão descabido, e pela falta de experiências de estrada. O Hernán decidiu então vir comigo, o que para já me permitia poupar algum no riquetó, que seria partilhado por dois.