Acordar cedo, terrivelmente cedo. De tal forma que ainda é de noite quando meio a dormir saio para a rua, depois de um esboço de pequeno-almoço e uma despida calorosa do Eric. Chego num instante à estação de autocarros, que estudo rapidamente, para concluir onde deverei apanhar o prometido transporte para Cluj. Amaldiçoo pela milésima vez o Ovidius e o momento em que ele me garantiu, naquele tom de quem não tem qualquer dúvida, que seria mais fácil chegar a Cluj a partir de Sibiu do que de Sighisoara. O que não podia estar mais errado. Daqui, comboio, só há um, e passa às quatro e picos da matina. Depois, há uns quantos autocarros, que demoram uma eternidade a vencer a distância. Por outro lado, de Sighisoara, havia uns 8 comboios diários, para todos os gostos e bolsas.

 

 

Mas pronto… lá estou eu, no cais de embarque que me parece adequado… e quando pisco os olhos e os volto a focar, defronte de mim está um mini-bus. Qual autocarro qual carapuça! Um maldito mini-bus, daqueles que costumam elevar os níveis de adrenalina do viajante pouco habituado a essas andanças até valores nunca vistos. E sabem que mais? A minha sorte foi ter calculado mal o tempo e ter chegado à estação uns 40 minutos adiantado. Porque entre os que estavam à minha frente e os que chegando depois tinham reservas, os 12 ou 15 lugares esgotaram num instante e se não me falha a memória, fiquei com o último bilhete disponível.

 

 

A viagem decorrem sem percalços. O condutor era surpreendentemente profissional, quer no trato com os passageiros quer na manobra da viatura, e depois de uma série de paragens em cidades intermédias, cheguei. Depois de contacto telefónico com o Sam, o meu próximo anfitrião, pus pés ao caminho, em direcção ao centro, onde nos encontraríamos. Costuma-se dizer que quando as expectativas são reduzidas, as coisas até sabem bem… ora no caso de Cluj nem isso salvou o julgamento. Já vinha com pouca vontade de aqui me deter, mas as coisas acabaram por ficar assim orientadas. E o que vi não foi nem melhor nem pior do que estava à espera. Não existe nada de terrivelmente errado com a cidade. O problema é que também não existe nada de bom. É um local sem sabor, apesar da tradição que traz consigo e das dimensões já consideráveis. Já vinha avisado pelos amigos romenos de que iria encontrar um bulício urbano que não se encontra presente em locais como Brasov ou Sibiu. E de facto assim é.

 

 

Encontrei o Sam, e a “química” positiva foi imediata. Entre conversa animada, nem dei pelo esforço da subida até casa dele, um belo apartamento, sem dúvida a melhor habitação que conheci em toda a jornada. Ele é israelita, nasceu no Equador, tem passaporte americano e está a estudar medicina em Cluj. E estava com pressa, porque me veio encontrar entre duas actividades no hospital. Portanto saímos juntos, ele vai à vida dele, enquanto eu tenho 3 ou 4 horas para explorar a cidade. Não há muito para contar. Cluj tem 160 mil habitantes, dos quais 70 mil são estudantes. Isto faz com que exista um ambiente permanente de hora de ponta, com toda essa juventude constantemente nas ruas. O que vi nesta passeada não é de todo memorável. Umas quantas fachadas merecedoras de um segundo olhar, igrejas… um parque… as vistas do alto onde se encontra o hotel Belvedere, centro de operações da Securitate durante a revolução de 1989, e em cuja escadaria de acesso foram abatidas várias pessoas por essa altura. E depois, voltei ao ponto de encontro, que ao longo destes dois dias passou a ser a fonte da praça Unirii (não passei por nenhuma cidade na Roménia onde a praça principal ou quase não se chamasse assim).

O Sam ia fazer desporto, mas deixou-me a chave e indicações de onde encontrar um supermercado (olha, um Plus, ainda não tinha avistado nenhum nestas paragens). Assim, fiz as minhas comprazinhas e regressei para comer bravamente e relaxar enquanto verificava as minhas coisitas na net. Nesse dia não se passou muito mais. Ele regressou, estivemos à conversa pela noite dentro e depois, hora de dormir.

 

 

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