Em 22 de julho de 2025, o Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou oficialmente que o país deixará a UNESCO, a agência das Nações Unidas dedicada a educação, ciência e cultura, com efeito a partir de 31 de dezembro de 2026. Até essa data, os EUA permanecerão como membros plenos, mas o governo norte-americano deixou claro que não pretende renovar a sua participação. A decisão foi fundamentada pelo argumento de que a UNESCO já não atende aos interesses nacionais e que as suas ações estariam demasiadamente politizadas, contrariando a política conhecida como “America First”.

Historicamente, a relação entre os Estados Unidos e a UNESCO tem sido marcada por altos e baixos. A primeira saída ocorreu em 1984, sob a presidência de Ronald Reagan, alegando que a agência promovia agendas ideológicas e sofria de má gestão. O país voltou a integrar a organização em 2003, mas voltou a se retirar em 2018 durante o governo de Donald Trump, antes de regressar em 2023 com a administração Biden. Esta nova saída confirma um padrão de participação instável, refletindo tensões políticas internas e a percepção de que a UNESCO não corresponde às expectativas dos EUA em termos de influência global.

Segundo a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, a decisão é lamentável, mas previsível. Ela destacou que a agência já diversificou as suas fontes de financiamento e que a participação financeira norte-americana, actualmente cerca de 8% do orçamento total, não compromete a sustentabilidade da organização. Azoulay afirmou ainda que a UNESCO continuará o seu trabalho sem a participação dos EUA, reforçando a importância de parcerias globais e de uma base de financiamento mais ampla.

Especialistas em relações internacionais observam que a saída dos Estados Unidos enfraquece a sua capacidade de influenciar decisões culturais e científicas dentro da agência, abrindo espaço para que outros países assumam maior protagonismo, nomeadamente a China, que tem aumentado significativamente a sua presença e poder de decisão nos últimos anos. Isso pode impactar áreas estratégicas como a definição de sítios do Património Mundial, políticas de preservação cultural e iniciativas globais de educação e ciência.

Para os turistas e cidadãos, as mudanças são mais simbólicas do que práticas. Os 26 sítios do Património Mundial localizados nos Estados Unidos continuarão reconhecidos, e o turismo não será afetado de imediato. No entanto, projetos de preservação financiados parcialmente pelos EUA poderão sofrer restrições futuras, dependendo das contribuições e do apoio técnico que antes eram garantidos.

Além das implicações culturais e educacionais, a decisão também reflete uma postura política mais isolacionista dos Estados Unidos, priorizando interesses nacionais sobre o multilateralismo e a cooperação internacional. Esta escolha provoca debates acalorados tanto no plano interno, entre políticos e especialistas, quanto no cenário global, levantando questões sobre o papel futuro dos EUA em organismos internacionais e sobre a influência crescente de outras potências dentro da UNESCO.

O anúncio reacende a discussão sobre a eficácia de organismos multilaterais e sobre a necessidade de modernização das estruturas internacionais, equilibrando interesses nacionais com metas globais de preservação cultural, educação e ciência. Apesar da saída planeada, a UNESCO continua comprometida em manter a sua missão e em trabalhar com outros parceiros internacionais para proteger património, promover educação de qualidade e fomentar a cooperação científica em escala global.

Subscrever o boletim semanal
às Sextas-feiras o resumo dos artigos publicados no
Cruzamundos na última semana.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui