14 de Janeiro de 2023

No segundo dia começou a ficar claro que Udaipur se esgotava para nós. Escolhi o Vintage and Classic Car Collection como uma variante à Udaipur mais central e turística. Este museu, dedicado a carros clássicos, encontrava-se a uma boa distância mas dava para ir até lá caminhando. Foi uma boa opção.

Deixando para trás aquelas ruas mais populares, tão bem conhecidas por esta altura, entramos num mundo diferente, de ruelas e becos, onde o silêncio impera, raras pessoas são avistadas. De repente, parecia que tinha deixado a Índia e as suas multidões para trás. Foi uma meia-hora de vira à esquerda e vira à esquerda, direita, esquerda, esquerda. Sempre seguindo o mapa no telemóvel, sempre mais perto do tal museu. Um belo passeio que ofereceu um panorama diferente, uma perspectiva fugaz do quotidiano de bairros de classe média.

Tomei nota mental de um par de restaurantes que poderia vir a dar jeito mais tarde. Vimos edíficios pictorescos, mulas, jardins. E chegámos ao destino.

O museu é um pouco limitado. Não tem muitos carros, mas deu para variar um pouco. O bilhete não é especialmente barato. Talvez porque o museu pertence à família real de Udaipur, que ainda habita numa secção do palácio lá no centro histórico.

Entre os carros expostos encontra-se uma viatura utilizada na filmagem do filme Octopussy, um James Bond com Roger Moore no papel de 0007, produzido em 1981 que teve várias cenas rodadas em Udaipur.

Terminada a visita, a fome começou a fazer-se sentir. Mas não resistimos a explorar um bonito parque urbano ali próximo, que descobrimos por acaso. Tinha árvores frondosas, estava limpo e era tranquilo.

Ainda bem que tinha marcado aqueles restaurantes. Foi uma refeição muito agradável. Mesas dispostas num pátio com muita relva. Ambiente tranquilo, preços acima da média para a Índia mas muito acessíveis para nós. E acabámos a conversar com o gerente, um homem que conhecia Portugal, onde ainda tinha família.

A parte da tarde ficou para relaxar. Havia que usufruir da vista magnífica daquele quarto. E, honestamente, faltava já imaginação para encontrar coisas diferentes para fazer em Udaipur.

Fomos ver o pôr-do-sol ao ghat ali próximo. Do outro lado, naquele outro ghat que tinha feito as nossas delícias quatro anos antes, continuava a ser cobrado um bilhete para entrar. Uma pena por tudo. Não me custaria nada pagar aquele Euro, o que fiz só para espreitar. E que diferente para pior estava. A imposição dos bilhetes – para todos, locais e turistas – destruiu completamente o charme daquele ponto de encontro que me deliciou em 2019. A vizinhança deixou de ir, e como que num secreto pacto, os estrangeiros também. Lá dentro apenas umas quantas pessoas. Decadente.

Pagámos a entrada no museu ali ao lado, onde na véspera tínhamos assistido ao espectáculo de dança tradicional. Fecharia dentro de alguns minutos mas quis voltar aquelas salas sobre a água de onde a vista era admirável. Foi uma visita corrida.

E restava ao serão. O que fizemos? Voltámos às danças. Tinha sido tão agradável que pelo preço pedido decidimos rever o espectáculo. Desta vez num lugar melhor. Já não teve a mesma magia, como é natural. Tinha perdido o efeito surpresa. Mas valeu a pena.

Seguiu-se o jantar, no mesmo terraço com vista. E depois, sabendo que era o adeus a Udaipur – que dificilmente voltaria a visitar – não quis retirar-me. Acabámos a noite a beber um chá numa “tasca” muito local, já com frio. As ruas tinham-se tornado desertas. Não fazia sentido continuar a cirandar numa cidade fantasma. Só restava mesmo voltar a “casa” e tentar dormir ao som da ira canina sob a janela.

 

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