A manhã deste sexto dia no México foi passada num local assombroso. A hacienda Yaxcopoil, ou ex-hacienda, como aqui chamam a fazendas que deixaram de ser produtivas do ponto de vista agrícola.

Depois do fiasco da manhã da véspera estava decidido a não cometer o mesmo erro e em vez de procurar um transporte que poderia nunca encontrar chamei logo um Uber para nos levar até à porta desta hacienda. Um decisão muito acertada. O preço pode ter sido muitas vezes mais do que custaria com uma carrinha mas mesmo assim foi uma ninharia e à hora de abertura – 9 horas – estávamos a chegar.

Os tempos áureos desta propriedade coincidiram com os anos em que aqui se cultivava e preparava o sisal, depois usado para o fabrico de cordoame de todo o género. Terá isso sido entre finais do século XIX e início do século XX. Muito mais haveria a escrever sobre este local, e penso fazê-lo noutra ocasião, um artigo que lhe será especialmente dedicado.

Fomos as primeiras pessoas a entrar nesta fazenda feita museu. Aqui se organizam eventos e nesses dias as visitas não são possíveis, mas essas datas encontram-se indicadas no website deles e para este dia felizmente não estava nada marcado.

Mágico. É um lugar mágico. Sente-se ali o passado, quase que se ouvem os murmúrios da criadagem, os comandos gritados pelo capataz aos trabalhadores. Se fecharmos os olhos podemos imaginar os dramas e alegrias que se viveram entre aquelas paredes. E como seria viver aqui, sem telefone, sem internet, sem vias de comunicação eficientes para lado algum para além de Mérida…? Dia após dia, nas rotinas da fazenda.

A parte inicial da visita decorre no interior da casa principal, o lar dos proprietários, mais opulenta. Ali se observam as salas e os quartos, ricamente decorados, com frequentes saídas para o exterior, para pátios que jogam um papel preponderante no conceito da propriedade.

Há uma capela, curiosas casas de banho de outros tempos, uma calmaria notável. Depois, passa-se para os jardins, que se exploram livremente, apesar de alguns dos anexos que habitualmente se poderiam visitar estarem encerrados.

Depois, a parte fabril, o sector onde se processava o sisal. Algumas destas estruturas estão hoje num estado ruinoso, mas num dos espaços encontra-se uma colecção admirável de maquinaria industrial. E, mais ou menos, termina aqui a visita. Foram literalmente horas aqui passadas. O tempo passou num instante, aproveitando-se do fascínio que de nós tomou conta. Acabámos a beber um sumo na cafetaria que entretanto abriu, e por aquela altura já havia diversos turistas a percorrer os cantos da hacienda.


O regresso fez-se de transportes públicos. Mesmo ali de junto ao portão saem colectivos para Uman e de lá haveria de encontrar outra ligação para Mérida. Simples. Esperam algumas pessoas que vivem nos arredores da fazenda, um casario quase tornado aldeia cuja história certamente estará associada à da empresa agrícola.

Vem o colectivo e seguimos. Pelo caminho vamos recolhendo mais uns passageiros e num instante se chega Uman. Infelizmente ou felizmente assim que saímos da carrinha vemos um autocarro que parece ir para Mérida. Uma corrida e estamos lá dentro. Bom, está a correr nem, a antítese do dia anterior. Agora, porquê infelizmente? Porque Uman parece interessante, nem que fosse por dez minutos… gostava de ter dado uma vista de olhos.

E agora, recolher as mochilas do hotel Medio Mundo. Tocar a campainha, aliás, o sino, e depois… conversar com o proprietário, e mais e mais, e ainda mais. Este homem gosta de falar! E eu gostei de falar com ele, uma personagem verdadeiramente sui generis.

Depois de feito o checkout seguimos a pé para a central da ADO para apanhar o autocarro para Campeche, onde chegaríamos já ao final da tarde.

O centro histórico de Campeche é um dos locais World Heritage Site da UNESCO no México. É uma cidade muralhada, à beira-mar, a que já vi chamar de “Cartagena Mexicana”, em alusão à bela cidade colombiana com esse nome. Infelizmente não é comparável. Não gostei nada de Campeche. Descaracterizada na alma, feita abrigo de turistas baratos, com o centro histórico cheio de carros. Mas isto é assunto para outro dia.

Em Campeche o autocarro não nos deixa no centro. É necessário negociar um táxi, talvez o táxi mais caro da viagem no México. Pelo menos deixou-nos no hotel sem mais problemas e fizemos o check-in. Garantem-nos que todo o centro histórico é seguro para caminhar, mesmo de noite.

Assim, vamos até lá, ainda são umas centenas de metros, uma distância que não é um problema, pelo contrário, revela-se providencial. A zona intra-muros é demasiado viva e barulhenta e ali estamos sossegados.

Vamos passeando, chegamos ao mar… já sentia alguma saudade de ver o mar e agora ali está, o mar das Caraíbas, e logo à hora do pôr-do-sol.

Depois, entramos na rede de ruas que forma o centro histórico. A edificação é de facto magnífica. Vias ladeadas de prédios históricos, todos eles, muito bonitos, coloridos. O problema é a saturação de turistas e de pessoas de forma geral, com carros estacionados por todo o lado. Apenas numa rua não se pode estacionar e essa é onde se encontram os bares e restaurantes para turistas, um ambiente a que de facto sou adverso.

Não gostei mesmo. Senti-me asfixiado. Foi um serão desagradável para a minha alma. Apesar de reconhecer o potencial de Campeche, senti um alívio quando começámos a caminhar para casa depois de nos remediarmos no Burger King. Tinha planeado ficar aqui duas noites, quem sabe mais, mas felizmente e à cautela só tinha reservado uma. E uma será.

O caminho de regresso ao hotel deu-me mais gosto do que o centro histórico. Retratos da vida quotidiana. Um homem que passeia o seu cão. Um casal de namorados sentado num banco. As bancas de comida de rua que já estão abertas. Joga-se basquetebol num parque. Um senhor limpa o seu carro. E chegamos à praça onde está o hotel, sossegada mas também ela rodeada de edíficios históricos. E assim acaba este dia.

 

 

 

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