E seguindo o plano o dia começou cedo. Iríamos para Oaxaca. Uma decisão tomada depois de muita hesitação, com um pouco de desnorte pelo meio. Simplesmente sobravam dias a mais, dias que deveriam ter sido atribuídos a locais que tivéssemos gostado mais. Mas até agora, duas semanas depois, nada no México o tinha justificado.

Quanto a Oaxaca, ficava fora de mão, implicava um desvio enorme da rota natural, que seria sempre para norte. Mas não consegui lidar com isto: se não fosse ficaria com isto atravessado. E os muitos blogues de viajantes que li falavam de Oaxaca em termos tentadores. Muitas vezes classificada com a paragem mais agradável do México, reunindo tudo o que um viajante deseja… história, gastronomia, exoticismo. E etc.

Mas antes havia algo que queria ainda visitar em Puebla: o museu ferroviário. Não ficava longe do centro. Na realidade, situa-se na orla do centro histórico da cidade. Em circunstâncias normais teria simplesmente caminhado, mas o tempo não era muito. Para o visitar teria que poupar tempo e para isso nada melhor do que um Uber.

Parecia estar fechado à hora de abertura, mas apenas porque a entrada de visitantes não se faz pelo portão principal. Não é fácil de perceber, até porque ali se encontrava uma bilheteira, também encerrada.

Encontrei um guarda num portão mais ao lado que me disse que sim, estava aberto desde aquele momento e se entraria por ali mesmo.

O museu foi uma excelente surpresa. Com muito para ver, maquinaria com histórias sem fim para contar, um relato do percurso dos caminhos-de-ferro no México, com peças em excelente estado de conservação e uma manutenção cuidada.

A colecção é ampla, estende-se por uma série de plataformas e linhas, algum do material rolante está mesmo num terreno adjacente, sob árvores que trazem uma nota de frescura à visita numa manhã quente e com muito sol.

Há detalhes deliciosos, como a carruagem correio, com os interiores impecáveis, as caixas onde a correspondência era arrumada, as sacas de linho que um dia foram cheias de envelopes.

Máquinas a valor, máquinas a diesel, máquinas eléctricas. Algumas com a possibilidade de se subir, deixar a imaginação correr, sentirmo-nos maquinistas de outros tempos.

A própria estação é um monumento, trouxe glória a Puebla em noutra época e hoje está ali para se ver, longe de ter sido abandonada. Uma experiência recomendada, com apenas uma nota negativa: a obsessão COVID, trazida a níveis surreais. Entre cada locomotiva, entre cada vagão, é exigida a desinfeção com gel álcool. E isto com uma segurança para ter a certeza que os visitantes – ou seja, nós, os únicos em todo o museu – não se esqueciam desta sacrosanta função.

Agora era apanhar outro Uber para a estação de autocarros e para Oaxaca. Uma viagem longa, chata e monótona. E desconfortável, com os filmes dobrados em castelhano que enchem o autocarro de barulho sem pausa. “Holla, mi nombre es Árri [Harry Potter]”.

E pronto. Em Oaxaca. Uber para o alojamento, no centro da cidade. As primeiras impressões não são brilhantes, e infelizmente desta vez as primeiras serão as últimas.

Tinha alugado um pequeno apartamento. A Internet não funcionava, a cozinha não tinha nem uma panela para cozinhar e por acaso precisava de uma. O recepcionista descartou-se logo. Que era mesmo assim e pronto. Felizmente era sossegado, algo vital, considerando o barulho incrível na rua. E assim passou o dia sem nada mais para assinalar.

 

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