Domingo. Sente-se o fim-de-semana no ar. Há uma calmaria na grande urbe. Falta o trânsito, o ruído, a azáfama. E está um bonito dia de sol. Sinto-me recuperado, bem, desejoso de sair à descoberta da cidade. E o zócalo, a grandiosa praça central da Cidade do México é o primeiro objectivo.

Uber chamado. Espera-se. Nada. Um cancelamento. E outro carro chamado. Há um problema. Recebo uma mensagem na aplicação, o condutor diz que o trânsito está vedado. Fico de ir ao seu encontro. Afinal, olhando para o mapa, são uns 200 metros. E lá está ele.

Então o que se passa? Bem, é a Maratona da Cidade do México. Está um caos. O homem faz o seu melhor para nos deixar próximo do destino mas simplesmente não é possível. Resta-nos caminhar o último pedaço. E ainda bem, porque pudemos ver um pouco mais da cidade, as pessoas e os participantes da corrida que passam ali perto.

O imenso zócalo está transformado. Ali é o ponto de chegada da competição. Há centenas de voluntários. Posto de saúde, distribuição de água, fotógrafos e todo o tipo de ajudas aos corredores. O ambiente está espectacular. Não posso ver com calma aquele espaço essencial da cidade mas tenho algo de valioso em troca, aquele momento especial.

Andamos por ali a sentir o ambiente, a ver. Visito a catedral, impressionante no exterior e no interior. Observo as fachadas dos edifícios que envolvem o zócalo, alguns deles com quase quinhentos anos.

E depois… depois senti-me mal, de uma forma estranha, dificil de definir, uma mistura entre tonturas e fraqueza, não conseguia mexer-me, faltava-me o ar. Pelo menos estava no lugar e na altura certa. Por causa da maratona havia paramédicos, ambulâncias e médicos por todo o lado. Pensei que teria mesmo que pedir ajuda, mas acabei por recuperar sozinho. Nunca saberei o que foi aquilo mas tenho umas ideias… a combinação entre altitude, poluição, convalescença, calor e respirar com a máscara.

Perguntámos a um polícia onde era a estação de metro mais próxima. Aquela ali estava fechada, devido ao evento. Caminhámos na direcção indicada, sempre com os olhos postos no que nos rodeava. Uma cidade mágica, grandiosa.


Junto à estação de metro existe a febre das lentes. É um fenómeno. Há dezenas ou mesmo centenas de pessoas a tentar trazer clientes para as lojas de óptica que existem por ali, de forma bastante insistente. Foi um deles que me indicou onde ficava a entrada para o metro. Nos dias que fiquei na Cidade do México passei mais um par de vezes naquele local e não consegui deixar de me surpreender com a surreal abordagem dos vendedores de lentes.

O metro na Cidade do México é simples de usar e ao contrário do que receava, considerando a população desta grande metrópole, não é especialmente congestionado. Num instante estamos na estação de Cuauhtémoc, a mais próxima do hotel, a uns 800 metros. Um passeio que repeti várias vezes ao longo dos muitos dias que passei na cidade, sempre com gosto.

Uma boa parte da tarde foi passada a descansar e depois saímos de novo para a rua. Fomos até ao Paseo de la Reforma, talvez a principal avenida da Cidade do México, uma avenida fascinante, fervilhante, onde os cidadãos vêm dar o seu passeio.

Muita arquitectura, num misto entre moderno e clássico, vendedores de rua, feirinhas, lojas e restaurantes. Saudades do Paseo de la Reforma. Deu também para explorar um pouco do bairro onde estamos a ficar, Juarez, ou “Colonia Juarez” como é costume chamar aqui aos bairros. Muito agradável. Central, seguro, cosmopolita, muitos restaurantes simpáticos, cafés, bares, supermercados. Não tenho dúvidas de que escolhi bem o local do alojamento. Deve ser o melhor de toda a cidade.

Fomos andado pelo Paseo. Tinha um objectivo, visitar um cemitério histórico que fica um pouco deslocado, para a esquerda. Nesta cidade é melhor ter sempre atenção às imediações que se pisam. Assim, quando saí do Paseo e segui o GPS em direcção ao cemitério, os meus sentidos tornaram-se alerta. As ruas passaram a ser obscuras e ainda por cima não havia muita gente por ali.

Interessante mas um pouco assustador. Correu bem, contudo. Chegámos ao cemitério. Chama-se, formalmente, Panteão de São Fernando. A entrada é gratuita. Note-se que é considerado um museu, não um cemitério activo. E é de facto um museu. Ao contrário da maioria dos cemitérios que vo no México este tinha uma atmosfera especial. Decidi fotografar a preto e branco, fiz algumas imagens interessantes. Campas interessantes, traços da vida e morte de personagens essenciais da História do México.

Gostei bastante desta visita ao fim do dia, com uma luz especial. Um estudante de arte passeava também por lá, fazendo uns esboços a lápis no seu bloco de desenhos. Depois, quando já saíamos, entrou um casal para visitar. Uma boa memória, mais uma, da Cidade do México.

Já cá fora, achei por bem fazer um compasso de espera enquanto um tipo de aspecto perigoso reduzia a serradura uns móveis que tinham estado a ser usados por uma missa ao ar livre que decorria quando entrámos no cemitério. Foi-se o louco, iniciámos o caminho de regresso, trilhando mais ou menos as mesmas ruas.

O Paseo estava ainda mais cheio de vida, agora que a hora de ponta estava ao rubro. Foi com grande gosto que percorremos um ou dois quilómetros desta avenida, antes de sairmos para a Colónia Juarez.

Em determinado momento o rufar de tambores anunciava algo. Lá ao fundo via-se uma massa de uniformes que descia a avenida. O trânsito estava interrompido. A verdade é que nunca percebi do que se tratava e quem era aquela gente. Inicialmente pensei que fossem militares, mas não eram, apesar de alguns dos uniformes serem algo marciais. Passaram dezenas de grupos, de personalidade e roupas distintas, quase todos com a sua banda, desfilando, em grande cerimónia. Um mistério vistoso que ficou para trás.

Em vez de regressar ao hotel parámos para comer uma pizza deliciosa num restaurante no largo Washington. Ponchinelo Pizza, que é o mesmo que a Burger Hauus que surge ao seu lado no Google Maps. Grande jantar, serviço cuidado, ambiente agradável numa esplanada intimista e comida deliciosa.

No regresso a casa uma paragem numa loja de conveniência para abastecimento de guloseimas. Um dia em grande!

 

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