A estória começa com um paradoxo: Arthur, que é russo com nome inglês, mas que não fala inglês. Quando cheguei a Sevastopol, onde seria hospedado por Nick – um ucraniano com nome inglês mas que falava inglês como um americano – Arthur estava lá. Iamos partilhar a hospitalidade do nosso amigo local. Ele, na sua cama real, e cada um de nós a ocupar o pedaço de chão de cada lado, como dois mastims bem comportados.

Mas vamos ao que importa. Arthur. Nasceu e cresceu em Norilsk, uma pequena cidade nos confins da Rússia, 3.000 km a Este de Moscovo. Tinha 24 anos quando o conheci e dava os primeiros passos da sua aventura: nada mais nada menos do que percorrer toda a distância entre a Rússia e as Filipinas. Sem transportes públicos. À boleia e a pé. Apenas.

Como é evidente, não falando eu russo e ficando o inglês do Arthur pelo seu nome, não conversámos muito. O que aprendi sobre a sua vida e sobre o seu projecto, fi-lo com a tradução do Nick. Mas partilhámos vinte e quatro horas das nossas vidas, basicamente explorando destroços do defunto império soviético. Fotógrafo convicto, fez-se na arte uma ponte de comunicação. À falta de palavras trocadas, passámos o dia a mostrar um ao outro as imagens captadas.

Naquele curto tempo rendi-me à simpatia natural de Arthur, à sua capacidade de transformar sonhos em realidade. Quando assim é as coisas tornam-se simples: é enfiar o que vamos precisar nos próximos dois anos da nossa vida numa mochila e partir, casa às costas. Sim, dois anos. Cruzei-me com Arthur em Maio de 2012 e um ano depois estava em Pequim, com as Filipinas quase ao alcance da mão. Desde que palmilho o mundo conheci uma mão cheia de viajantes intrépidos, mas pelas distâncias percorridas e pela simplicidade dos meios de transporte escolhidos, Arthur tornou-se um exemplo.

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