9 de Março de 2025

Nos arredores de Stone Town existem alguns lugares que tinha marcado como sendo de interesse. Duas ruínas palacianas e um outro edifício nobre transformado em museu. Tinha ponderado fazer a visita usando os transportes locais, as carrinhas ou pequenos autocarros a que os locais chamam dala-dala. O problema é que o calor era considerável e as visitas envolveriam alguma caminhada. Além disso havia a possibilidade dos dala-dala passarem cheios. Muita potencial chatice. Decidi apanhar um tuk-tuk, pelo menos para ir, e depois logo se veria. Preço razoável.

E lá se foi. Primeira paragem, Kibweni Palace Museum. O ponto mais afastado dos três, a 6 km da cidade. Antes de entrar acertei as coisas com o condutor de tuk-tuk para nos levar aos pontos desejados e de regresso à cidade. Foi um óptimo negócio que garantiu que usufruiria do dia ao máximo.

O palácio foi construído entre finais do século XIX e início do século XX pelo nono sultão de Zanzibar, Khalifa II, com claras influências cruzadas entre estilos mouriscos e africanos. Depois do final da monarquia o edifício foi usado como centro de eventos oficiais mas actualmente está aberto ao público como museu. A visita inclui uma tour, que se aconselha.

O palácio está enquadrado pela serenidade transmitida pelo oceano Índico, longe do bulício das paragens turísticas de Zanzibar, recebendo poucos visitantes. É um quadro bucólico, que puxa pela imaginação. Com facilidade sentimo-nos puxados para um outro Zanzibar, próximo do seu esplendor, onde os poderosos viviam rodeados de grande fausto.

Terminada a visita seguimos para as ruínas do palácio Mtoni, local de nascimento da princesa Seyyid Said, que se tornou um símbolo pela sua vida aventurosa, que passou por um amor proibido com um comerciante alemão, seguido por uma fuga de ambos para a Alemanha, onde viveu até ao final dos seus dias.

Hoje em dia não há muito para ver ali. Só mesmo para os maluquinhos de vestígios do passado, enfim, como eu. Algumas arcadas, restos de uns banhos árabes, paredes de pedra sem cobertura e pouco mais.

Por fim, antes de regressar a Stone Town, outras ruínas, bem diferentes. O palácio Maruhubi, construído por volta de 1880 pelo sultão Barghash bin Said para alojar as suas noventa e nove concubinas. O monarca mantinha a sua residência em Stone Town e usava o palácio como local de relaxe e prazer. Diria quem o viu que o palácio combinava estilos árabes, persas e sauílis e que nos seus jardins se organizavam festas, entre tanques de água, fontes e frondosas árvores. Tudo isso terminou abruptamente em 1899, quando um incêndio destruiu o palácio que ficou ao abandono desde então.

Hoje em dia restam apenas alguns pilares, mas os banhos, abertos ao público para visita, valem a pena uma vista de olhos.

Bem próximo existe uma aldeia de pescadores. À entrada um cartaz diz que os turistas são bem vindos e podem fotografar tudo e todos, mas que seria gentil deixar um donativo na caixa comunal deixada junto ao letreiro.  No regresso, no caminho de terra batida que conduz à estrada principal, vêem-se homens que esticam redes num enorme terreiro.

Foi o fim de uma manhã que de tão preenchida soube mais a dia inteiro. O nosso pouco simpático mas fiável condutor deixou-nos às portas da cidade antiga e depois foi caminhar até “casa”, relaxar, arrefecer, até tirar uma soneca, até tudo estar pronto para mais um calcorrear pelas vielas de Stone Town.

À beira-mar os jovens repetiam o seu número I Love Zanzibar, sempre divertido de assistir. Falo aos vendedores de tudo que por esta altura parecem velhos conhecidos.

Passeios já repetidos, vamos pelo porto até ao charmoso centro hospitalar Aga Khan. Na pequena praceta que o antecede um aglomerado de homens joga às cartas.

Compro um cacho de bananas – excelentes – a um vendedor de rua que dispôs o seu material sobre um muro, enchendo-o de cores magníficas. Aproxima-se o pôr-de-sol, há que ir para o local do costume, perfeito para o espectáculo não só da natureza mas também humano. Todas aquelas pessoas têm algo de único. Entre turistas, locais mesmo locais e locais de um pouco mais longe que visitam este cantinho do seu país. Monta-se o mercado nocturno de comida, aprontam-se as coisas para a abertura logo após a última oração do dia, já que estamos no Ramadão.

No areal um homem jovem posa para que um amigo lhe tire retratos sem parar. Há quem vá a banhos. É espantoso como esta água junto à cidade está limpa, cristalina.

Para jantar a tasquinha frente à mesquita, refeição económica, sabor garantido, ambiente genuíno. Depois, pelo caminho para casa, algumas compras, quer para consumo ao serão, quer para a jornada do dia seguinte, até à extremidade sul da ilha.

Até à deita nada de mais se vai passar. Um tempo de descanso e um adeus do coração à Cidade de Pedra.

 

 

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