10 de Março de 2025
Este foi o dia de passar para a segunda base desta expedição a Zanzibar. De Stone Town para Kizimkazi de Dala-Dala, os transportes locais assegurados por minibus ou carrinhas de caixa.
Logo pela manhã um tuk-tuk para a zona de partida das dala-dala para sul, junto ao mercado de Mwanakwerekwe, a uns 5 km do centro histórico. Foi uma operação sem dificuldade, o homem do tuk-tuk deixou-nos mesmo à porta da dala-dala certa, foi sair de um e entrar na outra.
Viagem divertida, primeiro à larga e depois, a meio do percurso, num minibus a rebentar pelas costuras. Sucediam-se paisagens naturais, pequenas aldeias. Um trajecto mais simples e rápido do que imaginaria e a chegada a Kizimkazi, já com o veículo quase deserto.
A aldeia fica para explorar mais tarde, agora há que andar uns dois quilómetros até ao alojamento escolhido. Uma caminhada que à medida que ia repetindo, neste e nos outros dias, parecia ir ficando mais pequena.
Chegamos enfim ao Promised Land Lodge que é como quem diz, ao paraíso. Um quarto com uma varanda para o oceano, a que nem um dia bem cinzento retirou o brilho.
Quis dar um pulo a um resort abandonado que descobri no mapa a curta distância do nosso alojamento. Uma caminhada rápida e estávamos a entrar em Dolphin Bay, um projecto de capital dinamarquês que por alguma razão falhou completamente. Amplo, com uma pequena praia de areia suja com lixo trazido pelo mar, com muito para explorar, mas sem grande charme.
Seguiram-se horas de preguiça e descanso, alternado-se leitura com algum trabalho remoto, uma soneca, uma cerveja gelada e, simplesmente, abarcar aquela paisagem com o olhar.
Já para o meio da tarde caminhámos até à aldeia. Foi uma expedição agradável, quer pelo descontraído passeio a pé, quer pelo que se viveu por lá.
Alguns homens concluíam a jornada de pesca, arrumando o que faltava arrumar, limpando instrumentos e recolhendo motores. Numa bancada uma série de grandes peixes alinhavam-se, fruto de um dia de trabalho.
Apesar de constar de qualquer guia de Zanzibar, Kimkazi é uma aldeia intocada pelo turismo. É certo que existe uma mão cheia de restaurantes, mas estão basicamente vazios. Vi apenas um casal de estrangeiros a jantar e nenhum forasteiro pelas ruas.
O supermercado estava fechado. Perguntei a alguém se iria abrir e isso foi o suficiente para despoletar uma agitação que terminou com a abertura da loja. Comprei umas coisitas para o serão e depois, mais à frente, outras tantas, numa banca bem aviada de petiscos exóticos.
A fome apertava. Os preços dos turísticos não eram para meu gosto e também não me agrada muito comer em restaurantes vazios. Topei um pequeno quiosque que anunciava comida a preços muito locais e tinha clientela. Foi uma aposta às cegas que saiu vencedora. A mesa era comunal, dava para umas seis pessoas, que iam rodando.
O jantar foi uma delícia e a preço de nada. O dono, uma simpatia. Na ocasião conhecemos um homem que falava português, e bem. O pai era moçambicano e vivia também ali, infelizmente acamado.
Para sobremesa, uma espécie de fatias douradas, à falta de melhor definição. Uns fritos fofos, mais pequenos que as nossas tradicionais.
E depois o regresso a casa, na escuridão do caminho, interrompida apenas pelas luzes das poucas casas que se encontravam à sua margem.
Foi um bom dia e seria também uma boa noite. Tinha hesitado antes de escolher o destino costeiro de praia em Zanzibar. Arriscaria dizer que a maioria dos visitantes experimenta até mais do que uma localização, mas não sou muito de praia, e ainda menos em viagem. No final foi a escolha certa. Kizimkazi é teoricamente um dos pontos mais remotos, mas na práctica é uma viagem curta que se faz bem mesmo em dala-dala. E é uma aldeia castiça e genuína onde se come bem com o pessoal local.