2 de Outubro de 2024

Por mais confortável que tivesse sido a noite no comboio foi sempre curta. A chegada dá-se ainda de madrugada, pouco depois das cinco horas. Bem que se podia ter atrasado, o malvado comboio!

Está frio, está escuro, toda a gente com sono, o humor colectivo está em baixo. Não fui só eu que dormi pouco. E em consequência a manhã vai ser um inferninho.

O autocarro espera-nos à saída da estação. Não podemos fazer o checkin no hotel, ainda é demasiado cedo. A empresa devia aqui ter sido generosa e pago uma noite mais para podermos descansar devidamente e aproveitar melhor o dia.

Mas não, andámos de um lado para o outro, no autocarro, o condutor com claras instruções para circular o mais devagar possível, fazendo tempo para o dia clarear.

À torre de TV que estava no plano e de facto parecia apelativa, não pudemos chegar. A estrada estava interrompida. Chegámos ao sopé onde se inicia (ou termina) o trilho de caminhada que o primeiro presidente do Turquemenistão criou. Chamou-lhe “A Caminhada da Saúde” e deu instruções aos seus súbditos para que o percorressem quantas vezes quanto possível. Este interesse no exercício não surgiu do nada. Foi fruto da sua própria decadência física. Os problemas cardíacos que haveriam de resultar na sua morte já se anunciavam.

Alguns elementos do grupo tinham prometido fazer este exigente percurso, montanha acima montanha abaixo, mas na hora ficou claro que ninguém tinha disposição para tal aventura. Ficámos só por ali, a fazer mais tempo, na noite que já não parecia tão fria, a olhar para cima, para a estátua gigante do poeta Mahtumkulu Fıraki Heykeli. Fantasmagórica, iluminada cuidadosamente por luz branca, tão branca quanto o mármore de que é feita, parece estar suspensa no breu da noite. Por detrás apenas a escuridão da montanha.

Quando saímos dali já o horizonte ganhava cores. Mais uma marcha lenta do autocarro, e paramos num hotel para o pequeno-almoço. Não no nosso hotel, note-se, noutro hotel. Alguns passaram a comida e aproveitaram a paragem para uma soneca nos bancos amplos do lobby. Caras de sono, espelho da noite curta, talvez mal dormida. Tudo a arrastar-se.

Depois foi tempo de visitar o Museu Nacional, e quem o faz vê também a enorme bandeira nacional colocada lá defronte. Em tempos teve o título de maior bandeira do mundo, pretensão conferida pelo Guiness Book Of Records. Entretanto já foi batida, uma e outra vez. Entre os países árabes e os da Ásia Central a competição por este título é feroz, para gáudio dos turcos que constroem todos estes “paus” de bandeira gigantes, certamente por igualmente gigantes somas.

O edifício do museu é monumental, claro, como se esperaria. A coleção nem por isso. O piso térreo é pura propaganda governamental, nada para ver. No piso de cima sim, está o sumo e vale a pena a visita. Dividido entre os dois andares está o segundo maior tapete do mundo. O primeiro também vive no Turquemenistão, mas noutra residência, o Museu dos Tapetes.

Aqui tirei as últimas fotos a sério desta viagem. Até partir, só os instantâneos de telemóvel. A máquina foi desde logo embalada na mochila.

Já podíamos receber o quarto. E para todos os efeitos a viagem organizada acabou aqui. O almoço era livre, cada um por si, e a tarde também. Tomei uma boa refeição no saudoso Üzüm Café, onde os batidos de morango eram algo de extraordinário e os pratos tradicionais também.

Durante a tarde não fiz nada. Descanso. Esperando pelo jantar. Fomos todos a uma espécie de beer garden. Foi agradável. Pelo ambiente. Muito local, alguns estrangeiros, talvez pessoal das embaixadas, gente de negócios, e muita classe média nacional. Estava quase cheio, ambiente positivo, alegria, gostei.

A noite estava agradável. Terminado o jantar alguns dispensaram o autocarro e simplesmente caminhámos até ao hotel. Cerca de 1,5 km em amena cavaqueira. Vinha aí a última noite no Turquemenistão. E aqui fecho a narrativa, pois apesar de o nosso voo ocorrer tecnicamente dois dias depois (era às 2 da manhã), o dia seguinte não teve nada mais do que a espera pelo tempo que corria. De manhã, a aproveitar as últimas horas de uma cama confortável, à tarde no dedicado café, e depois de escurecer, no lobby do hotel.

Transporte atrasado para o aeroporto ainda deu para stressar um bocado. Este é o tipo de local que é bom enquanto dura mas onde uma pessoa não quer ficar encravada. Lá se resolveu, timing perfeito para os complicados procedimentos de saída, para gastar os últimos Manats em brandy local que haveria de ficar retido no aeroporto de Istambul (já que ao contrário do que aconteceu para cá, passámos por um controle de segurança na escala) e os que ainda sobravam simplesmente dei-os à senhora da loja que se emocionou e insistiu em gastar alguns deles para me oferecer uns chocolates tradicionais.

Portanto, longo retorno, desta vez não para Portugal mas para a minha segunda pátria: iria ficar 6 semanas em Praga. Ashgabat – Istambul – Berlim – correr para o autocarro para Praga.

 

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