18 de Março de 2023

Um dia diferente, atípico nesta viagem: de carro alugado. Preparei as coisinhas, deixei a chave do hotel na recepção e fui até ao metro. Havia uma estação não muito longe do escritório da rent-a-car que escolhi, uma excelente opção: fui bem recebido, entrega rápida de carro, com a simpatia adicional devida ao meu I Love Nepal.

O objectivo era conduzir para noroeste e depois acabar o dia em Al Khor, que é, digamos, a única outra cidade no Qatar para além de Doha. E ficaria com um anfitrião Couchsurfing.

Como seria de esperar conduzir no Qatar é simples. As estradas são excelentes – especialmente as principais – e há pouco tráfego. Flui assim com naturalidade, passando em Lusail e seguindo para norte.

A primeira paragem foi em Al Zubara. Encontra-se aqui o único sítio classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade no Qatar. Trata-se de um conjunto composto pelo forte e pelo local arqueológico, a alguns quilómetros de distância. A visita é paga e o mesmo bilhete cobre a entrada no forte e o transporte em autocarro e entrada no local arqueológico. O autocarro tinha saído há pouco, o meu tempo era limitado, o valor não era especialmente baixo e ponderando tudo considerando o interesse limitado no local arqueológico (para mim), decidi passar.

Gostei contudo bastante de ver o forte por dentro. Parece saído das histórias de banda desenhada ou de um filme de aventuras de Hollywood. Quase consegui ver John Wayne no topo da torre, descarregando 1001 tiros com um revólver sobre os sinistros atacantes da fortaleza.

Dali segui para Al Arish. Uma aldeia abandonada da qual pouco resta. Foi em tempos um núcleo de apanha de ostras para o comércio de pérolas. Pouca gente sabe disto, mas na realidade, como era a economia desta zona do Golfo antes da descoberta do petróleo e da sua exploração em massa? Tal como no Bahrain o comércio de pérolas era essencial no Qatar. Depois o Japão entrou no negócio em grande e quando se adivinhava a queda num abismo sem fundo o ouro negro brotou e esta malta foi salva à última da hora.

Esta aldeia, como outras na região, foi abandonada com o desaparecimento do comércio de pérolas. Ficaram as ruínas, traços de uma presença passada, guias do passado desta comunidade. Reina o silêncio, o aroma salgado do mar, a luz dominante, intensa.

Para chegar aqui conduzi o meu pequeno carro de estrada por 2 km de nada. Pedras soltas, piso firme mas nada mais do que puro deserto. Mais ou menos em linha recta. Ao lado um grupo de homens organizava uma paródia. Uma mão cheia de veículos todo o terreno perfilava-se e de vez em quando chegava ou partia um. Ignorei-os e eles ignorararam-me. Explorei os recantos da pequena aldeia, gostei especialmente de ver o que restava da mesquita com o seu minarete ainda intacto. Boas fotografias aqui. Malhei especialmente no preto e branco.

Próxima paragem: Jumail. Outra aldeia com a mesma história. Mais simples de aceder com um caminho de pedras de uns 500 metros desde o asfalto. Talvez por isso uma família árabe explorava também a aldeia mas havia espaço para todos. Esta é menos interessante do que a outra, banal, diria.

Nesta região existem diversos fortes históricos. Alguns em partes de difícil acesso. Já tinha visto o de Al Zubara e agora estava decidido a chegar ao Al Thagab. Oh e que desafio foi. Com um carrinho de estrada e nenhuma vontade de sofrer danos que pagaria caro mas com aquele chamamento, aquele “tenho que lá chegar”. Meti-me por vias que pareciam campos de minas feitos de pedras aguçadas. Os quilómetros a diminuir e depois as centenas de metros e por fim lá estava. Valeu cada esforço!

A porta parecia estar fechada e comecei a praguejar. Todo o trabalho para me limitar a um a visita do exterior! Mas não. Estava apenas encostada. Abri e lá dentro descobri o cenário da felicidade de qualquer criança da minha geração. Um forte de brincar em ponto grande e deserto, tudo só meu. Não deserto naquele momento. Provavelmente sem visitas há dias, senão semanas. Muito fotogénico, muitas fotografias, muito deleite.

Sair foi mais fácil do que entrar. Encontrei a melhor rota e pus-me no asfalto rapidamente e com algum alívio.

Pronto, estava na altura de iniciar a cerimónia de encerramento do dia. Ia ficar com alguém, não queria ser rude e chegar demasiado tarde.

Fui directo para a morada do Ahmed. Estacionei, ele saiu de casa, foi logo uma boa ligação. Entrámos no carro dele, fomos comer, mostrou-me a Purple Island e depois o estádio de Al Khor, também construído para o Mundial de 2022. Muito boa conversa, divertida, grande Couchsurfing. Foi um bom dia e descansei bem no quarto de hóspedes. Não tornaria a ver o Ahmed pois ele estava de partida para outras paragens ainda de madrugada.

 

 

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