Dias 18 de Março de 2023

E estava a chegar ao fim a aventura. Tenho um voo ao fim do dia para Istambul. Será a última paragem antes do regresso a Portugal. Mas antes ainda tenho algo do Qatar para desfrutar.

Acordei quando me apeteceu acordar. O meu anfitrião à muito tinha partido. Estava sozinho e com o dia por minha conta. Mochila no carro, uma paragem junto ao estádio de Al Khor, dos mais interessantes dos do Mundial, construído em forma de tenda do deserto e depois direito a Doha, sempre por estradas boas e rápidas.

Tinha dois objectivos e ambos foram cumpridos, com um bónus. A primeira paragem foi nas Torres Barzan, já à entrada da cidade, muito próximo da auto-estrada. Fácil de chegar seguindo as indicações do Google Maps e por fim paro junto ao portão. Um simpático guarda convida-me a entrar. Acesso gratuito, local fascinante.

As torres são o elemento dominante num pequeno complexo fortificado que inclui também uma pequena mesquita e uma casa de apoio. Tudo construído em finais do século XIX, como torres de vigia. Foram renovadas há pouco tempo e são muito fotogénicas, um lugar a visitar em Doha, com ou sem carro (de Lusail para lá de Uber não há-de ser caro).

Andei por ali a fotografar um bom bocado, sempre sozinho. A cores, a preto e branco, de diversos ângulos. Saí satisfeito e pronto para a próxima paragem, a grande mesquita chamada de Imam Muhammad ibn Abd al-Wahhab.

Não correu bem. O lugar é gigantesco. Deixei o carro num parqueamento vazio, imenso, e caminhei até à mesquita. Guardas paranoicos (enfim, certamente são ordens). Nada de fotografias. Nem de fora. EM toda a área da mesquita, que deve ser um raio de 1 km. OK, tudo bem. E então passei a ser seguido. Não fosse cometer esse horrível atentado de roubar uma fotografia ao exterior da mesquita. Não gostei.

Por outro lado, por acidente, dei com um lugar que queria ver mas que já tinha saído dos meus planos. Um quartel de bombeiros que foi integralmente convertido num centro de artes. Fascinante. Exposições, cafetaria, arte mural, árvores frondosas a oferecer a desejada sombra aos visitantes. As garagens onde se encontravam os carros de bombeiros são agora ateliers cedidos a artistas qataris. Muito bom, excelente onda, a visitar se houver tempo numa ida a Doha.

E com isto estava feito o dia. Era rumar ao escritório da rent-a-car onde mais uma vez fui muito bem recebido e tratado. Devolução rápida e descomplicada e num instante estava despachado. Respirei fundo. Tinha acabado. Mais de dois meses pelas Ásias. Agora era caminhar até ao metro, tinha tempo, era ir nas calmas. Até ao metro e depois para o aeroporto, o famoso aeroporto de Doha.

Descobri-lhe demasiados problemas para um aeroporto premiado e muitas vezes considerado o melhor do mundo, mas o jardim botânico no seu interior é qualquer coisa… a sério!? Um jardim botânico num terminal de aeroporto? Com plantas tropicais, vaporização de água para oferecer a necessária humidade aos espécimes, passadiços elevados para uma vista geral do espaço… surreal.

E pronto. Acabou. Passarei esta noite e a seguinte em Istambul, num bom AirBnB, mas a cidade maior da Turquia desiludiu-me. Tem envelhecido mal. E pensar que ponderei viver ali uns tempos. Não gostei nada desta passagem. Espaço urbano degradado – tipo Lisboa – com buracos na calçada, pisos maltratados, parque imobiliário neglicenciado. Refugiados, insegurança nas ruas, prostituição e turismo em crescimento exponencial. Não fiquei com vontade de regressar.

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