Dia 10 de Março de 2020, Terça-feira

Mais um dia em Buenos Aires. Acho que é natural, mas à medida que o tempo passa, faço menos coisas, descanso mais, repouso, respiro o ambiente.

Deixo-me estar em casa até meio da manhã. Foi a minha última noite neste quarto, porque o anfitrião tem-no alugado para o resto da semana. Vou passar para um hostel e depois logo vejo.

Os gatos dele vêm-me fazer companhia. Lá fora o céu revela um dia aceitável, com muitas nuvens mas também com algumas generosas áreas pintadas de azul.

Para hoje tenho planeados alguns dos que se esperam ser pontos altos em Buenos Aires. E para começar visitarei o famoso cemitério da Recoleta, considerada a principal atracção turística da capital argentina. Pessoalmente vou com expectativas baixas. Como se sabe, sou um apaixonado por cemitérios. Mas este, não chama por mim. Fartei-me de ver imagens antes de viajar e pareceu-me sempre desinteressante. Talvez seja demasiado parecido com os cemitérios portugueses que, não é por serem portugueses, sempre os achei desprovidos de charme.


Apanho um autocarro, caminho o resto. Logo estou a passar o portão do cemitério. E foi tal e qual como antecipei. Não fiquei absolutamente nada impressionado pelo famoso cemitério de Recoleta e tenho mesmo dificuldade em compreender como ganhou a popularidade que tem.

É um cemitério monótono com vias arrumadas geometricamente, mausoléus de tamanho idêntico, um local seco e estéril, visualmente e também de forma literal. Percorri uma boa parte dele na expectativa de me alegrar mas as coisas não melhoraram. Vi o túmulo de Eva Péron, o mais procurado pelos turistas nacionais e estrangeiros e, enquanto me afastava, indiquei a direcção a duas ou três pessoas que por alguma razão me escolheram para perguntar.

Encontrei por acaso o túmulo do Presidente Sarmiento, o que deu o nome ao bonito navio que visitei na véspera. Andei um pouco mais por ali antes de desistir e me encaminhar para a saída.

Sentei-me à sombra e pedi um carro Uber que demorou um bom bocado a chegar. O próximo destino era o estádio do River Plate. Os dois grandes clubes de futebol da capital argentina têm museus concorrentes e é possível ter uma visita guiada aos respectivos estádios. Escolhi este porque tinha que escolher um e agora estava a chegar. O carro deixou-me à porta.

Entrei no museu e fui informado que por alguma razão não se estavam a fazer visitas guiadas ao estádio. Só no dia seguinte. Frustrante. Bem, sendo assim também não vou visitar o museu. Fiquei por ali, tirei algumas fotos ao exterior do estádio. Não é muito recente mas tem um aspeto moderno e imaculado.

De novo chamar um Uber e de novo esperar um bom bocado. Agora é para o Espacio Memoria y Derechos Humanos, um pouco mais à frente mas mesmo assim demasiado longo para caminhar. Coitado do senhor, não me encontrou, andou à minha procura a pé e ainda por cima para um trajecto mínimo. Até lhe queria dar um pouco mais de dinheiro mas atrapalhei-me a lidar com a app e não o fiz.

Então o Espacio Memoria y Derechos Humanos. O que é isso? Bem, é um projeto algo abstrato instalado num antigo complexo da Marinha onde funcionou a infame Escola de Mecânica da Armada. Por detrás dessa fachada o regime criou o principal centro de detenção ilegal, um centro de tortura e prisão para os suspeitos de subversão.


Apesar de só um dos muitos edifícios do complexo ter sido usado para estes fins obscuros, hoje todo o aquartelamento foi deixado pela Marinha. Alguns dos pavilhões são espaços de exposição, outros encontram-se encerrados. Há painéis explicativos espalhados pelos arruamentos.

Está uma tarde plácida, de temperatura amena. Exploro calmamente os recantos do complexo. Entro no edifício da Escola de Mecânica, que é hoje um museu. Visito as instalações, com muita atenção. Ouvi falar deste lugar pela primeira vez há uns 40 anos e foi uma sensação ver com os meus próprios olhos estas paredes. Li atentamente todas as explicações. E por fim acabei a visita.

Saí para o exterior e andei para a rua. Ia regressar ao centro, tinha era que encontrar o autocarro certo. O que nem foi complicado. Bastou perguntar.

Foi uma longa travessia, mas interessante. Vi a cidade passar diante dos meus olhos, confortavelmente sentado num autocarro que ia enchendo.

Regressado a San Telmo ia cheio de fome. Ainda era cedo para jantar mas entrei numa tasca que já tinha visto e perguntei se se podia comer qualquer coisa. Podia. Pedi o bife de chorizo da ordem e passado um bocado era servido com um belo naco de carne, bem empurrado com uma cerveja gelada de um litro. Maravilha! Um local mesmo como eu gosto, super genuíno, frequentado pelas pessoas do bairro. Voltei mais duas vezes e foi sempre excelente. Nesta primeira experiência só havia um cliente, para além de mim, e conversava animadamente com o jovem empregado.

Hoje ia-se passar outra coisa. Ia transitar para uma noite num hostel. Mais uma vez, foi bem escolhido. A localização poderia ser melhor, para o meu gosto, mas o hostel era excelente. Infelizmente deixei aqui o meu lenço de viagem, que nunca mais foi visto.

Passei o serão em ambiente de hostel, a bever umas cervejas e a ver futebol enquanto trabalhava na organização da viagem e depois fui dormir. E dormi muito bem.

 

 

 

 

 

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