Acordei tarde porque dormi mal. Vi mal a hora do avião para Bahr Dahr e mesmo assim o tempo era curto. O pessoal do hotel assegura o transporte por um valor razoável: 150 Birr. Bem porreiro. Pronto, mais umas travessuras ao volante para enfrentar o trânsito, uma barbaridade. Nada de super impressionante, que deixe mesmo uma pessoa arrepiada, mas é violentozinho.
Foi a chegar ao terminal que vi: o voo não é às 12 horas. É as 10:20. E são 10:35. Pronto, agora é comprar outro para mais tarde, esperando que ainda os haja, porque já tenho as coisas combinadas para esse dia.
Ah mas há milagres sim senhora. O voo estava bestialmente atrasado, e para cúmulo dos cúmulos remarcado precisamente para as 12:00. Sou ou não sou um visionário!?
Passou-se o tempo, chegou a hora e agora sim, seguiu. Uma hora de voo tranquilo, tudo bem. Chegada a um aeroporto tranquilo e pequeno, lá fora um amigo à espera com um cartaz com o meu nome. Lá nos levou para a estação de autocarros.
Agora sim, a Etiópia. Exótico. Na estação compra-se os bilhetes de fora, a pessoas que lançam os braços de dentro de janelas com grades de alvenaria. Assim que saio do táxi sou rodeado por gaiatos, mas sem problemas, só querem ver se podem vender a sua ajuda a transportar bagagem e logo se desiludem. Mas simpáticos, a indicar logo a janela correcta. Bilhete comprado, malta boa onda, sempre a perguntar o destino e a indicar o autocarro certo.
Aqui funciona o sistema de saída quando fica cheio. Demorou um bocado. Muito para observar. As pessoas vão-se acomodando. Agora está repleto, mas há sempre os preparativos, bagagem para o tejadilho as discussões mais ou menos acaloradas cuja língua, indecifrável, cobre com um manto de mistério. E pronto, lá fomos.
São poucos quilómetros. Talvez uns trinta. Mas a estrada de terra batida é um campo de lavra e eu, parvo, sabendo o que sei, fui-me sentar sobre a roda, o pior lugar de todos para uma massagem destruidora de coluna. O meu pensamento flui para o o Panamá e de como um tratamento destes me deixou maltratado durante semanas numa fabulosa viagem de Portobelo para Colón.
Muito interessante todo o caminho, feito daquele fascínio por vidas diferentes. E logo no início da viagem, quando domina aquele ponto de interrogação, e só foi pena que com os buracos não pudesse recolher umas imagens. Terão que ficar nesta muito falível memória.
À chegada a Tiss Abay, também conhecida como Tississat, fiquei um bocado chateado: era suposto o tipo do sítio onde ia ficar ir-me esperar, ou pelo menos mandar alguém, mas afinal o que tive que fazer foi pagar algum a um conhecido dele que ainda por cima ficou chateado com a quantia, que era exactamente a que o hospedeiro me disse para dar.
Mas valeu a pena. O lugar é o paraíso. Estou mesmo ao lado das cataratas do Nilo Azul. O barulho está lá, mas não é ensurdecedor, dorme-se bem, e com tampões de ouvido então não se ouve nada. Mas já lá vamos…
Tenho uma cabana de lama para mim, e o local é uma maravilha. Está-se bem. Há turistas, vejo-os subir a encosta do outro lado do canyon. É tempo de relaxar. Há pássaros que é uma coisa louca. Para observar, de tantos tamanhos e cores garridas.
A queda, propriamente dita, é mesmo aqui por detrás. Acho que faz parte da propriedade do local onde estou. Blue Nile Camping. O camping é possível mas para já é mais cabanas e só está cá uma moça eslovaca.
Começa a chover. Estou dentro da cabana a ouvir a chuva a cair. Pouco depois pára. O dia está a chegar ao fim. Tenho uma hora antes de cair a noite. Um passeio bom. O local é lindo, há que atravessar uma ponte suspensa, passo por um pastor que toca flauta enquanto faz companhia às suas seis vacas e me sorri.
Vejo a cascata de vários ângulos, a luz está magnífica. Ainda queria chegar à ponte portuguesa que neste meio de nenhures foi construída pelo nosso povo no início do século XVII a pedido da autoridade local. Mas a escuridão estava a chegar e o retorno foi forçado por esta circunstância. Foi contudo um passeio que me lavou o espírito.
No “acampamento” jantei e gostei. Um serão agradável, com boa conversa.