Segundo dia completo em Delhi. Manhã dedicada aos pontos mais turísticos da cidade. São facilmente alcançáveis desde o nosso pouso. Há aquela agradável caminhada até à estação de metro mais próxima e depois, com uma simples mudança de linha a meio do percurso, chega-se à estação de Lal Quila, na linha violeta.

É essa a paragem mais próxima do Forte Vermelho, mas saímos na anterior, Jama Masjid, porque li algures que era bem mais tranquila e de qualquer forma a apenas uma pequena distância do Forte.

Além disso, mesmo ali em frente, encontra-se o que é talvez o segundo lugar mais emblemático da cidade, a mesquita Jama Masjid, que empresa o seu nome à estação de metro mais próxima.

Ainda no interior do metro fomos abordados por um jovem. Bem vestido e bem falante. Mas o surpreendente é que a boa fala era em português. Era um guia, coitado, que pensou que talvez pudesse fazer negócio. Não fez, mas não levou a mal. Ficou a conversa e as dicas, gratuitas. No bolso, um cartão do rapaz, com a bandeira portuguesa.

A mesquita, como quase tudo em Delhi, ficará recordada pela positiva, apesar de se encontrar parcialmente em obras o que reduziu a qualidade da experiência. Mas se aquela fotografia perfeita não foi possível de obter ficou a memória do que não é retratável, do ambiente incrível, do afluxo contínuo de gente, quase todos indianos, um ou outro estrangeiro. Reina ali uma atmosfera de peregrinação e não é para menos: a mesquita, datada de 1656, foi mandada construir pelo imperador Mugal da altura, um tal de Shah Jahan, e desde então tem atraído muçulmanos de toda a região.

Os seus dois minaretes erguem-se a 40 metros de altura e o pátio pode acolher cerca de 25 mil fiéis. Resistiu por pouco à destruição, planeada pelos ocupantes britânicos em 1857. Recentemente foi palco de dois ataques terroristas: em 2006 registaram-se ali duas explosões com um impacto mínimo e em 2010 dois turistas do Taiwan perderam a vida depois do seu autocarro ter sido alvejado.

Mas quando visitei estava tudo sereno e sentia-se no ar um ambiente de harmonia. Depois de passear no interior sentei-me na escadaria no portão um, o principal, e deixei-me estar por longos momentos a sentir a atmosfera e a observar tudo o que por ali se passava.

Mesmo à minha frente um homem lia tranquilamente o jornal. Dois amigos, já de uma certa idade, conversavam. Pelo centro das escadas passavam as pessoas que se dirigiam à mesquita. No exterior um mercado estendia-se até perder de vista, abraçado por uma multidão compacta. Um bom momento.

Dali foi caminhar até ao Forte Vermelho. Difícil. Atravessar aquela avenida coberta por um trânsito sem fim é capaz de ter sido mais complicado do que enfrentar as famosas ruas de Saigão e o seu oceano de motorizadas. Mas fez-se.

Vencido o caudal de tráfego fui derrotado pelo de pessoas. A massa humana que se concentrava no recinto de entrada do Forte era indescritível. Nem pensar. Desisti.

Dei simplesmente uma pequena volta pelo perímetro da muralha. Deu para ficar com uma ideia da majestosidade da estrutura, das suas espessas paredes, da altura com que nos olham, desde lá de cima.

Já que estava ali, porque não dar uma vista de olhos na temível Old Delhi, ou Chandni Chowk. Temível porquê? Bem, em teoria porque seria o caos, aquela parte de Delhi capaz de atemorizar o ocidental ou até mesmo o indiano mais cosmopolita. Descrita como de uma densidade opressiva, um caos urbano, uma agressão aos sentidos. Pode ser, mas não foi a minha experiência. Gostei, talvez porque ia com receio. É… nada de mais.

E se não fiquei mais tempo por lá foi apenas porque queria ver mais umas coisas em Delhi. Começando por Jantar Mantar, um local com um nome que resulta engraçado em português, como se fosse um prato de comida, como no Alentejo se serve o Jantar de Grão. Mas não. Jantar Mantar é um observatório astronómico… do século XVIII. Um de cinco construídos na Índia pelo Maharaja Jai Singh II, senhor de Jaipur e amante das coisas celestiais.

Para lá chegar apanhei o metro, precisamente na estação de Chandni Chowk. Mais um percurso tranquilo, sem enchentes nem apertos.

Breve caminhada desde New Colony, talvez o ponto mais central de uma enorme cidade com diversos centros. É uma rotunda gigante, concêntrica, a partir da qual se estendem diversos anéis, construídos a um só tempo pelos britânicos, que sonharam em criar ali o coração de uma nova Delhi, lá está, a New Delhi.

New Colony é por si uma atracção. Há ali muito comércio, redes de fast food e muita vida. Assim como  Chandni Chowk se associa à tradição, New Colony é a capital de uma nova burguesia, das gerações mais jovens, que aspiram à modernidade. Conheci ali um jovem, presto em conselhos e a ajudar a encontrar a direcção devida. Era emigrante, mas vivia já há bastante tempo na cidade, considerando-a sua.

Pelo caminho aproveitei para trocar dinheiro. Encontrei uma casa de câmbios ao calhas, no Google Maps, e visitei-a. Já não me recordo do nome ou da localização exacta, mas seja como for, na altura de trocar dinheiro, estas ruas a sul do centro de New Colony são o lugar a visitar.

Passámos por um mercado de rua antes de chegar, por fim, a Jantar Mantar. Paguei o bilhete, que não foi especialmente barato, e entrei. Para mim foi uma decepção. É verdade que a astronomia não é um dos meus interesses, mas esperava um lugar mágico mas afinal não. Muita gente, pouco charme. Tudo muito restaurado. Demasiado restaurado. Os elementos pareceram-me como que um puzzle moderno em ponto grande. Não demorei muito tempo por lá, apenas o suficiente para recolher algumas imagens, mais por hábito do que por qualquer outra razão.

Agora era encontrar Agrasen ki Baoli. Raio de nome, não é? Bem, Agrasen ki baoli é uma cisterna medieval, monumental, com dimensões quase de castelo, escavada no solo, em patamares, até às profundezas.

Tinha seleccionado este local por me ter parecido pouco turístico. Fui enganado. É muito turístico. Cheio de gente, indianos e ocidentais. Mas não me arrependi porque é de facto muito interessante. Fica a imaginação, de como aquela cisterna seria se ali estivesse sozinho. Maravilhosa.

Note na rua onde está o acesso as pinturas murais bem conseguidas. Via-as à saída, antes de iniciar a caminhada até ao metro mais próximo, que não é nada próximo, na verdade. Por ruas retorcidas, com um ambiente a ficar pesado e alguma ajuda de locais. Até macacos encontrei nos muros!

O dia acabou assim. Caminhando para “casa”, já noite cerrada, aquele percurso que tantas vezes fiz nestes dias. Jantar no local da véspera, de novo muito agradável. E mais uma noite de frio, que paguei mais tarde com juros, sob a forma de uma gripe incapacitante durante vários dias.

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