19 de Janeiro de 2023

Este foi um dia lento. Saímos logo de manhã, num tuk-tuk, para a margem oposta do rio, com a missão de comprar os bilhetes para o autocarro nocturno para Diu. Vou confessar uma coisa: tantos anos de viagens, tantos países visitados, tantas estradas percorridas, e apenas uma vez usei autocarros nocturnos, na Argentina. Estava na expectativa de ver como seria agora, na Índia. Cheirava-me a aventura em grande. Mas primeiro era necessário encontrar o escritório para adquirir a passagem.

Mais uma vista da nossa casa em Ahmedabad e a sempre interessante vizinhança

Bem feito o trabalho de casa, não foi complicado. O local estava um pouco escondido, sob umas arcadas, mas os colegas de outra agência de viagens ajudaram e logo estava a tratar da reserva. Tudo muito claro, deveríamos ir ter ali mesmo ao escritório, à noite, um pouco antes da hora da partida. Aproveitámos a proximidade de uma farmácia para tentar sacar um medicamento necessário que carecia de receita. O que precisávamos não, mas a custo o casal proprietário lá nos passou depois de muita hesitação um correspondente made in India. Que pelo sim pelo não até hoje se encontra de reserva.

Vamos ser honestos… este foi um dia a mais em Ahmedabad. Daquelas alturas em que já não se sabe bem o que ver ou fazer. Tentou-se espremer as coisas. Ainda se caminhou por uns bairros interessantes e visitaram-se, por fora, os minaretes da mesquita Sidi Bashir.

Uma perspectiva dos minaretes.

Estes minaretes, também conhecidos como “shaking minarets”, têm uma particularidade: se for aplicada alguma vibração num deles, o outro vibra também passado uns segundos. O espantoso é que a estrutura entre os dois não regista nenhuma oscilação. Até hoje não se conseguiu descobrir uma explicação para o fenómeno. Já agora, são os minaretes mais altos da cidade. Para mais informações sobre esta mesquita e os seus intrigantes minaretes, pode ler o artigo Wikipedia.

As mochilas ficaram guardadas no alojamento. O resto do dia, bem, foi só matar tempo. Passámos um bocado nos Law Gardens, do outro lado do rio. Tinha sido a nossa amiga Olga que nos indicou este espacinho de verde numa cidade com muito pouca vegetação. A área é pequena, onde quer que se esteja vai-se ouvir o trânsito. Mesmo assim é a tranquilidade possível, com os seus lagos, árvores frondosas e relvados.

Deitámo-nos na relva a ler um pouco. Naquele recanto pouca gente chegava mas os meninos mendigos descobriram-nos e foram um pouco insistentes. Ficámos até começar a escurecer. Quando saímos dos jardins vimos que lá fora se tinha formado um mercado. Ainda estava a aquecer, os vendedores a aprontar as barraquinhas, poucas pessoas para o número de postos de venda, mas sentia-se que dentro de um par de horas seria a loucura.

Um lago nos Law Gardens

Chamei um tuk-tuk Uber. Estava na hora de recolher as mochilas. Ainda faltava bastante tempo para o autocarro, teria que ser preenchido de outra forma. Já com a bagagem voltámos para a margem oposta do rio. Era a quinta travessia das pontas neste dia e seria a última.

Tinha descoberto um restaurante recomendado não muito longe do ponto de partida do autocarro. Queria algo tranquilo, onde se pudesse passar algum tempo antes, durante e depois da refeição. E funcionou bem. Comeu-se, o relógio andou, já não falta assim tanto para a partida.

Agora é caminhar tranquilamente, são uns 400 metros. Vamos ao escritório como nos disseram para fazer. Lá, por sorte, está um jovem que também vai para Diu – na realidade é a sua terra – e que nos toma sob a sua asa protectora, indicando-nos o autocarro e ajudando nos procedimentos de embarque.

O espaço para a viagem é um cubículo forrado com uma alcatifa e um par de cobertores. Num autocarro normal seria uma parte do porão de bagagens, mas no nocturno é espaço para dois passageiros passarem a noite.

E não seria desconfortável se não fossem as buzinadelas constantes ao longo de toda a noite. Isso e as curvas apertadas que me faziam rolar para um lado e para outro. Não foi uma boa noite mas foi sem dúvida uma experiência interessante, com uma paragem para abastecimentos e xixi a meio de percurso.

Um detalhe urbano de Ahmedabad

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui