Acordei sem fazer ideia de onde iria dormir nesta noite. É fim-de-semana, e nesta altura torna-se complicado encontrar alojamento na península de Samaná. Em Las Galleras, nada. Nada de minimamente acessível, entenda-se. Em Las Terrenas, o mesmo cenário. Procuro, procuro muito, e nada.

O pessoal do meu alojamento falou-me de uma senhora que aluga quartos não muito longe, deu-me uma descrição do local. Saí para dar uma volta e investigar esta opção, deixei a mochila já preparada entregue ao pessoal.

Andei, andei e não encontrei. Está um calor já desagradável, pelo menos para andar ao sol. Dei meia volta, considerei o caso encerrado. Não ficaria em Las Galleras uma segunda noite.


Fui então até à praia, queria vê-la com uma luz diferente. Muito bonito. Areia branca, água azul turquesa, coqueiros. O estereotipo de praia paradisíaca. Poucas pessoas, mas não muito boa para tomar banho, é preciso andar muito com a água pelos joelhos.

Deitei-me à sombra de um coqueiro a ler um pouco. Não tenho nada de especial para fazer. Ali mesmo reservo um quarto para esta noite em Samaná. Ligo à pessoa, não está lá, encontra-se precisamente aqui, em Las Galeras, a passar o fim-de-semana. Mas a vizinha tem a chave e fica de me enviar indicações sobre como encontrar a casa.

Levanto-me, tenho fome. Faço duas passagens pela rua principal da aldeia até escolher um restaurante que anuncia pizzas. Pertence a um francês que se encontra ao balcão na cavaqueira com dois conterrâneos. Vem a minha pizza, que devoro até ao último pedaço. Paga a conta, caminho para o hostel para levantar a minha mochila. Converso um pouco mais com o meu amigo argentino, trocamos histórias de viagens e de vidas. Falamos da Argentina por onde viajei, de como gostei de Buenos Aires, a sua cidade, e sobre as minhas aventuras e impressões do Haiti. Ele conta-me como viveu seis meses numa pequena ilha dominicana onde tudo é complicado e tudo falta, mas onde a natureza é generosa e a tranquilidade reina. E com isto parto.

Na estrada logo passa uma guagua para Samaná. Viagem descansada em mais um dia lindíssimo, com muito sol e temperatura agradável.

Esta pequena cidade surpreedeu-me. Esperava um local muito turístico e afinal não. Muito local, muito viva, interessante. Encontrar a casa foi aventuroso, estava perdido. Miúdos jogam à bola na rua. É fim-de-semana, a comunidade está na rua, os vizinhos conversam. E eu procuro o prédio de que tenho a imagem, mas sem sucesso.

Um rapaz de uns 17 anos chama-me, pergunta-me se procuro a Julia. Sim, isso mesmo, a Julia. Leva-me até lá, voando sobre as pernas da sua juventude, com uma ligeireza e uma alegria contagiante.

A vizinha dá-me a chave, depois de um interrogatório para dissipar dúvidas. Tenho o apartamento todo por minha conta. Dois quartos, cozinha, uma salinha. Está tudo muito bem. Descanso, ponho-me à vontade.

Agora, aproveitar o final da tarde para explorar um pouco. Volto para o centro, junto à água. Decido tentar chegar a um ilhéu que se encontra ligado a terra por uma longa ponte pedestre.

Vou andando junto à água, passo por um terreno baldio. Não me sinto muito à vontade em termos de segurança nesta parte. Do outro lado um parqueamento que serve uma praia e o tal passeio até ao ilhéu tem muitas pessoas. O dia está no fim e vão-se retirando.

Espreito a tal praia. Ambiente de festa dominicana. Famílias, piqueniques, muita gente a banhar-se.

Agora vou encontrar o acesso para a ponte. Continuo um bocado alerta. Esta a ficar lentamente mais escuro e ainda vou demorar a ir e a vir. Cruzo-me com várias pessoas que vêm de volta. Começo a descontrair um pouco ao reparar que mesmo assim anda por ali muita gente e de forma bastante relaxada.

É lindo. O sol põe-se, há um veleiro que paira nas águas. Vou quase até ao ilhéu mas é o máximo que consigo. Apesar de continuarem a passar pessoas para um lado e para outro não quero voltar no escuro da noite.

Regresso, muito satisfeito com a decisão de ter ficado em Samaná. Foi um bocadinho muito bonito. Quando atravesso de volta o tal descampado descontraio. Já é de noite mas a cidade está cheia de pessoas. Grande ambiente festivo.

Tento encontrar um supermercado, sem grande sucesso. Lá compro algum pão para comer a seco numa pequena mercearia com muito pouca coisa e retiro-me.

Na rua a animação está ao rubro. Sento-me a ler, com duas ventoinhas apontadas a mim. O barulho lá fora prossegue. Como. Leio. O sono vai chegando e o ruído não dá sinais de abrandar. Espero que em breve se vão deitar. E de facto aos poucos aquilo abranda.

Contudo passarei uma noite complicada, a pior desta viagem. Acordo múltiplas vezes. Pela uma da manhã todos os cães do mundo parecem ladrar ali em redor. Depois são as motas, que parecem passar junto à minha cama. E ainda mais tarde um clamor de uma multidão irada que se aproxima, parece passar ali mesmo à janela e depois, um disparo. Silêncio. E as vozes regressam, num crescendo, mas afastando-se agora. Enfim.

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