27 de Setembro de 2024

Dia da Independência. Para alguns a razão central da vinda ao Turquemenistão. No programa da viagem está prevista a presença nas comemorações desta data histórica. O evento principal tem lugar num estádio magnífico e é um festival de cor e animação, com muitas actuações e grandes desfiles. Mas não vai acontecer. Pelo menos para nenhum de nós.

Recebemos a informação de que o presidente determinou com as comemorações deste ano terão lugar numa cidade onde a presença de turistas estrangeiros não é permitida. Paciência. No que me toca não me afecta. Assim como assim estive presente numa comemoração semelhante, na Coreia do Norte, tida como mais espectacular, e contudo não me impressionou assim tanto. Por isso, um encolher de ombros e siga. Mas para alguns elementos do grupo foi uma notícia decepcionante. É o que é. Neste tipo de viagens todos sabemos que os planos podem ter de ser alterados por motivos de força maior. E no Turquemenistão uma ordem presidencial é isso e muito mais.

Na realidade foi um dia algo morno, no qual se revelou uma certa desorientação da organização. Talvez o dia mais fraco da viagem.

Começou com o pequeno-almoço no hotel, claro, seguido da pequena viagem até Nisa, uma antiga cidade dos Partos e nó fundamental na posterior Rota da Seda. Está classificada como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO e encontra-se nas cercanias de Ashgabat.

Eu, que não sou grande apreciador de vestígios da Antiguidade, gostei do local. O clima seco é sempre uma grande ajuda na preservação de antigos edifícios e o local, especialmente quando visto de longe, mantém uma certa consistência.

Assim que chegamos e quando o nosso guia se apresta a falar começamos a ser sobrevoados por formações sucessivas de aviões e helicópteros militares. É a Força Aérea que ruma ao local das festividades de que fôramos excluídos.

Depois de escutar as explicações somos deixados livres de explorar as ruínas. Cada um por si. Está agradável. Algumas famílias encontram-se de visita, um simpático traço de vida local.

Do alto de um antigo baluarte avistam-se os telhados de uma outra Nisa, a moderna aldeia, uma espécie de subúrbio da capital. São quase todos verdes, como manda a lei.

Na saída paramos por uns momentos para comer gelados numa loja local. Fico fora, sentado numa parede, a observar. Reparo que diante de mim se encontra uma fronteira de transição entre a modernidade da capital e o restante país, rural, remediado. Repare-se nos carros: alguns são todos brancos e recentes. Os únicos autorizados a circular em Ashgabat. Outros, encontram-se assim no meio, e depois há as relíquias da era soviética, a cair de maduro. E o mesmo se aplica às pessoas que avisto. Uma mistura de dois mundos precisamente onde se tocam.

Regressamos à grande cidade. Uma pausa em frente a um moderno hotel onde actualmente funciona a embaixada dos EUA, temporariamente, enquanto o edifício principal se encontra em obras profundas. Vamos ver uma paragem de autocarros das mais modernas. É um luxo, faz-me pensar nas casinhas que se encontram no Japão, um pouco por todo o lado, onde as pessoas descansam e se aquecem/arrefecem nos dias de clima mais extremo. Mas em Ashgabat foram mais longe: para além dos confortáveis cadeirões e do ar condicionado há mesmo uma bela TV em pleno funcionamento. Um jovem aguarda a chegada do seu transporte, surpreendido, e de que maneira, pela chegada desta invasão de exóticos estrangeiros.

Era suposto visitarmos um magnífico centro hípico, lar de centenas de cavalos daquela raça única que é natural do Turquemenistão. Era algo que me empolgava, tinha expectativas. O que se arranjou foi uma pequena quinta com QUATRO animais. A organização a falhar de novo neste dia pobre. Suspeito que alguém ganha alguma comissão com estas visitas e os clientes é que saem a perder. Se estiver certo, e tenho quase a certeza de que estou.

Portanto, uma mostra pobre, dois moços de estrebaria a passear com os cavalos pelas rédeas, uma gracinhas, uma cavalgada que durou menos de um minuto. Ao menos uma demonstração, mas não! Em vez disso alguns participantes deixaram lá uma quantia descabida para darem um par de voltas ao picadeiro, pelas rédeas puxadas pelos rapazes.

Como o dia já estava a correr mal, o mal prosseguiu. O almoço foi acompanhado com folclore. Quer dizer, o folclore não tem nada de mal, mas a mim cheira-me sempre a artificial e estas coisas tendem a afungentar-me. Mas lá tive que me aguentar, fazendo algum zen, afinal é um grupo e o programa não é talhado à minha vontade.

Para fechar o dia de andanças, a paragem numa outra mesquita, bastante bonita, envolvida por um jardim impecavelmente mantido. Foi construída com o apoio da Turquia, o que se pode observar no estilo adoptado. Apesar do aspecto clássico foi apenas terminada em 1998.

Voltámos ao hotel para um pouco de descanso. Estava marcado o jantar para mais tarde, jantar esse a que muito convenientemente me baldei. Por isso recebi os parabéns de mais de um elemento do grupo. Parece que o caos se instalou, a refeição foi fraca e chegaram tarde a todas as vagas oportunidades de pelo menos se ver algum do fogo-de-artíficio comemorativo do Dia da Independência.

Já eu, fiquei-me pelo café vizinho, descansadamente, deliciado com a comida tradicional, regada posteriormente com uma cerveja no bar do hotel.

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