Dia 17 de Janeiro de 2020, Sexta-feira

Segundo dia completo em Quito, que se inicia com um belo pequeno-almoço na casa onde estamos a ficar. São alimentos naturais, saborosos, numa combinação servida pela simpática colaboradora, uma equatoriana atípica, de origem irlandesa, ruiva e energética ao extremo, faladora, simpática e amiga de ajudar. O marido não trabalhava, ela assegurava o pão na mesa lá em casa e apenas com este trabalho. E mesmo assim era apaixonada, pela vida, por ele, pelos filhos e pelas suas funções. Não me lembro do seu nome mas dificilmente me esquecerei dela.

Vamos até à Basílica dos Votos Nacionais, que fica um pouco longe mas mesmo assim decidimos seguir a pé. Está um bonito dia e o caminho faz-se por ruas do centro histórico que não tinham sido descobertas na véspera.

Passeio agradável mas fisicamente exigente, porque é sempre a subir e estamos numa das capitais mais altas do mundo, onde o nosso corpo pouco habituado à escassez de oxigénio se esfalfa para se conseguir.

Chegamos. Compro o bilhete. Apenas para as torres. Estas torres são um mundo. Primeiro, tem-se uma vista geral da nave, de um patamar baixo, rodeado de lindíssimos vitrais. Um grupo de estudantes locais tira fotos com aquele belo pano de fundo. Ali existe também um órgão, instrumento musical valioso por estas paragens, trazido da Europa.


Depois há que passar por um estreito estrado de madeira que se encontra sobre o tecto da nave. Porque as torres são do lado oposto do templo. E agora é subir, e que subida. Há vários pisos e em cada um existe uma surpresa para o visitante. Um pequeno museu, uma loja de recordações, um café.

A cada nível que se sobe, pelas janelas, vê-se a vista. Uma vista que se amplia e ganha grandiosidade. A cidade espraia-se lá em baixo e ganhamos uma perspectiva diferente de vários elementos da própria basílica.

Subi ao topo da primeira torre. Há muitos visitantes, locais e estrangeiros. Mas a maioria são grupos de jovens, talvez de visitas de estudo. A vista é fabulosa. Só por este bocadinho a visita já teria valido a pena mas ainda há mais.

Venho abaixo e passo para a outra torre. Só porque sim, porque as diferenças não são muitos. Depois vem o melhor: do outro lado do edifício existe um pináculo a que chamam, se bem me lembro, o ninho das águias. Ou algo assim.

Para o atingir é necessário subir um lanço de escadas vertical, de ferro forjado, no exterior. E depois estamos ali, naquela plataforma minúscula, que de facto faz lembrar um ninho de aves em ponto grande, e temos a cidade aos nossos pés.

Para mais informações sobre a basílica, poderá ler este completo artigo.

As melhores vistas da cidade, desde as torres da Basílica

Agora é descer e descer, e enganar-me nas escadas, para subir e depois voltar a descer. Passo em reverso por todas as surpresas das torres e estou cá em baixo.

O plano agora é visitar um dos bairros chiques da cidade, o lugar mais apetecível para viver pelas classes abastadas. Chama-se La Floresta e fui ali atraído por três razões: tentar encontrar a primeira geocache no Equador (missão falhada), ver uma casa abandonada que parecia pitoresca e era referida em vários blogs (encontrei mas foi decepcionante) e, enfim, ver uma realidade diferente de Quito, fora do centro histórico. Esta última parte foi também um fiasco.

La Floresta é um bairro feio e desinteressante e não tem qualquer charme. Tornou-se um símbolo de estatuto apenas porque sim, num daqueles movimentos uníssonos de explicação difícil. Foi sair dali rapidamente, depois de passarmos por um bonito (única coisa por ali) mercado de vegetais e fruta.

Voltámos ao centro histórico para mais uns passeios, visitámos uma casa museu, de uma notável mulher de Quito que enviuvando rica dedicou ou resto da sua vida ao trabalho de beneficiência. Infelizmente as fotografias estão proibidas no exterior, por alguma razão que sempre me escapa. Maria Augusta Urrutia era o seu nome e a casa fica naquela que poderá ser considerada a principal rua da área histórica da cidade.

Andámos um pouco mais por ali mas comecei a sentir que Quito – enquanto cidade para o visitante – estava vista e esgotada. Foi interessante e agradável, mas também desgastante, pela poluição e altitude. Uma cidade que gostei imenso de conhecer, até porque há muito estava no meu imaginário, mas onde não quereria de forma alguma viver.

Para a tarde, depois de um período de repouso, ficou a visita ao alto de El Panecillo. Como subir a pé era demasiado arriscado, cortámos despesa caminhando até à base do morro. Conseguir um Uber foi algo aventuroso, e só à terceira tentativa e depois de esperar um bom bocado conseguimos um carro para subir. A mesma situação haveria de se repetir mais tarde, para regressar.

O caminho por estrada é muito mais longo do que poderia parecer pela proximidade do topo. São voltas e mais voltas e observando os bairros por onde passamos compreendo porque não é recomendada a ascensão pedestre.


Lá chegamos. É um lugar agradável com uma atmosfera festiva. Se o acesso é perigoso, o alto não o é. Existes elementos de segurança privada por ali, e dá para sentir isso no ambiente descontraído que nos rodeia.

Um grupo de homens joga, ou tenta jogar, voleibol, entre risos e disparates, com muita alegria e boa disposição. Há, também aqui, visitas de estudo.

A tarde já vai avançada e sente-se uma certa desmobilização. Os vendedores começam a fechar as bancas. Outras já estão mesmo encerradas.

As vistas não são tão impressionantes como as das torres da Basílica. Mas foi um momento bem passado. Tentamos negociar com alguns taxistas que ali se encontram, mas o preço pedido é exagerado. Lá conseguimos um Uber para baixo.

A noite começa a cair sobre a cidade. Ao serão jantamos num restaurante magnífico mesmo ao lado da casa. Um local com paixão, oferecida pelo proprietário, que se dedica ao seu estabelecimento de coração inteiro. Excelente massa e um ambiente muito agradável. Uma boa forma de nos despedirmos de Quito, de onde partiremos no dia seguinte.

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