Dia 26 de Fevereiro de 2020, Terça-feira

Um longo dia de trânsito, mas ainda uma boa parte dele passado em Salta. Sem muito para contar. O pequeno-almoço foi o pior do hostel Ruhma. Uma das memórias marcantes desta curta passagem de Praga é algo bizarra e diz respeito às imediações do hostel: ficou uma impressão de que me encontrava na minha querida Praga. Nem sei porquê. Há ali qualquer coisa que remete para Karlin, um dos bairros mais cool do momento na capital checa. Não é frequente faltarem-me as palavras descritivas, mas aqui….

Tinha até meio da tarde para me despedir de Salta, mas não precisei desse tempo todo. Gostei de visitar esta cidade, mas não me encantou. Achei-a simpática. Não tem nada de errado, mas pela positiva, também não lhe encontrei grandes atributos. Não é que não tenha bonitos edifícios. Não é que as pessoas sejam antipáticas. Mas depois de dia, dei por mim sem vontade de sair, de descobrir mais, se é que algo mais havia para descobrir.

Assim, fiquei uma boa parte deste tempo no hostel, em cura de repouso. Bebi um chá mate, preparado com carinho por uma das moças do hostel depois de lhe dizer que não era grande fã. Fez questão de me tentar convencer que afinal é uma bebida deliciosa e que o truque está na preparação. E devo reconhecer que aquele não era tão mau como os outros que tinha experimentado mas continuo a querer manter a distância desta bebida nacional da Argentina e do Paraguai.

De manhã fui ainda esticar um pouco as pernas pela cidade e voltei a sair para comer qualquer coisa ao almoço. Acabei num simpático café a comer outra tosta mista, a solução rápida e económica para manter o estômago confortável sem grande esforço. Li ali um bocadinho, a matar tempo. Decididamente, para mim, 24 horas seriam suficientes para permanecer em Salta.

Às quatro horas arranquei para a estação. Um longo passeio, bem-vindo, como uma preparação para as muitas horas que iria estar fechado dentro de um autocarro.

Já a chegar ao terminal vi dois memoriais interessantes: um, dedicado aos resistentes à ditadura que desapareceram durante o período de grande repressão, e o outro, para os homens de Salta que perderam a vida durante a Guerra das Malvinas, em 1982.

Na estação compro abastecimentos para a viagem. Não há grandes opções, levo um par de sandes de um café-restaurante, e mais uma para comer na altura. Sento-me ao balcão, fico ali a matar um pouco mais de tempo.

O terminal de Salta é incrivelmente moderno. Poderia estar em qualquer parte do mundo chamado desenvolvido.

Vou para o autocarro, mas quase que o perco: na plataforma indicada está um parado, pergunto ao funcionário que vê os bilhetes e diz-me que não vai para Resistencia. Tudo bem, continuo à espera. Chega a hora de partida e mais nenhum à vista. Tive a boa ideia de voltar lá e em vez de falar com o mesmo, pergunto ao outro que ali está. E não é que é mesmo aquele autocarro? Nem digo nada, mas aquele tipo ia-me lixando bem. E seria um rico serviço.

A irritação passa depressa quando chego ao meu lugar. Que luxo! O melhor autocarro em que já viajei. Tenho uma poltrona isolada, num fila de lugares solo. E reclina-se totalmente, formando uma confortável cama. Que sorte! Uma coisa destas na viagem mais longa que farei. Resultado: uma viagem tão confortável que quando acabou não me importaria que continuasse. Ainda por cima o autocarro ia quase vazio. Sem má vizinhança e uma poltrona de rei, sinto-me incrivelmente confortável.

Até à hora da deita chegar vou lendo, bem entretido. Depois, aconchego-me mais, tapo-me com a mantinha e boa-noite. Durmo até à chegada como um rei.

 

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