Este roteiro de duas semanas pela Namíbia foi criado por mim quando preparava a viagem que fiz por esse país em Maio de 2024. Alguns detalhes poderão ficar desatualizados com o tempo mas os traços gerais permanecerão válidos.
Dia 1 – Windhoek
0 Km – 0 km
Quem chegue à Namibia fá-lo-á geralmente pela capital. Algumas pessoas poderão vir da África do Sul mas este plano assume que o padrão será seguido e se aterrará no aeroporto Hosea Kutako, a uns 35 km do centro da cidade.
Os voos da Europa chegam geralmente de manhã pelo que apesar da noite mal dormida terá o resto o dia para visitar o pouco que há para ver na cidade se preparar para a grande aventura.
Vamos a uns conselhos práticos: viajar na Namibia significa alugar uma viatura. Quase poderia dizer que não há outra forma. Há, mas é tão pouco prático que nem vou considerar. E assumindo que será alugada uma viatura, que seja um todo-o-terreno. Um pequeno Suzuki Jimny ou uma pickup, com ou sem material de campismo, a minha recomendação sem hesitação é que se recorra aos serviços da Sun & Sand, uma pequena companhia familiar cujo proprietário é de descendência portuguesa. Gente honesta e profissional, não existirá uma escolha melhor. Os transfers do aeroporto para a cidade e para o escritório deles (e no retorno o percurso inverso) estão incluídos em alugueres de mais de 12 dias.
Para ficar: sem dúvida o Chameleons Backpackers, um dos melhores hosteis onde já fiquei, e onde se pode ficar em quartos privados. Excelente em todos os aspetos.
Dia 2 – Parque Nacional Etosha – Namutoni
541 km – 541 km
Com o carro preparado é partir com o nascer do sol em direção ao Parque Nacional de Etosha, onde irá ver quase toda a bicharada que se espera avistar em África. O parque cobre uma extensão considerável. De uma ponta à outra são centenas de quilómetros. A minha sugestão é passar três noites, entrando pelo portão mais a leste e ficar em Namutoni na primeira noite.
Há quem se aloje no exterior do parque mas não entendo porquê. Os animais estão mais ativos ao nascer e ao pôr do sol e estando-se já dentro do parque é possível chegar aos melhores pontos de observação perto destes momentos chave.
As principais bases, como é o caso de Namutoni, têm os seus próprios pontos de água, para onde os animais convergem para poderem beber. É uma vantagem, pois ali pode-se estar antes e depois do sol passar por ali.
Em Namutoni encontra-se um antigo forte alemão do início do século XX, uma estação de combustível, um pequeno supermercado e um restaurante que aconselho vivamente. Mesmo!
Nos seus arredores encontram-se outros pontos de água (em inglês, “water holes”) que prometem avistamentos gloriosos. Mas isso é matéria para outro artigo detalhado.
Dia 3 – Parque Nacional de Etosha – Halali
70 km – 611 km
Ao centro do lago salgado de Etosha encontra-se outra base de dimensões consideráveis que é uma excelente opção para passar a segunda noite. Em Halali encontram-se as mesmas estruturas que nos outros campos principais: estação de combustível, um pequeno supermercado e um restaurante.
Entre ambos os campos e em redor de Halali existem outros water holes onde se observarão animais africanos em liberdade. Nos dias de Etosha avistei quase tudo o que consta nos guias, com excepção de leopardos: muitas girafas, elefantes, zebras, rinocerontes. Alguns leões, hienas e outros animais.
Já agora, se considerar pagar para ter uma visita guiada, imaginando que com um profissional terá mais oportunidades de avistamentos… não, não faça isso. Essas visitas são para os geralmente velhotes que andam por aqui sem carro, sempre enquadrados, e não trarão absolutamente nada de melhor. Pelo contrário.
Dia 4 – Parque Nacional de Etosha – Okaukuejo
70 km – 681 km
Okaukuejo é o ponto central do parque, o entreposto mais importante e também o portão mais utilizado. Tal como nas outras bases encontrará aqui estação de combustível, um pequeno supermercado e um restaurante. E um water hole, onde pode haver atividade pela noite dentro, escutando-se no parque de campismo as evidentes trombetas dos elefantes.
Dia 5 – Spitzkoppe
426 km – 1107 km
Alguns viajantes poderão estranhar a ausência de Costa dos Esqueletos neste itinerário. De repente, de Etosha, vamos para este nome estranho, Spitzkoppe, sem ir à costa. Razões: após muita leitura e hesitação decidi passar a Costa dos Esqueletos ao largo porque me pareceu demasiado esforço para pouco sumo. Mais adiante ter-se-á a oportunidade de um contacto com a mesma paisagem. Muita gente pensa em esqueletos de navios encalhados na areia, no deserto a beijar o oceano… essas coisas existem mas, acreditem, não estão ao alcance do viajante por ali.
Spitzkoppe por seu lado é um local mágico, adornado por formações rochosas impressionantes. É a paragem ideal entre Etosha e as cidades costeiras de Swakopmund e Walvis Bay, o centro urbano mais importante do país a seguir à capital.
Em Spizkoppe pode-se ficar no interior do parque ou num camping um pouco mais afastado. Ambos têm vantagens e desvantagens. No primeiro caso, dorme-se no meio das formações rochosas, em locais designados, sem outras tendas por perto. Mas enquanto o parque está aberto ao público há muito movimento de visitantes. O outro camping é agradável, tem uma piscina, está mais afastado, mais sossego durante o dia, café e restaurante.
Dias 6 a 8 – Swakopmund
152 km – 1259 km
Swakopmund é um oásis, em forma figurativa. O local para descansar a meio da viagem, encontrar o que for preciso, relaxar, ir ao supermercado, passear um pouco à beira mar, ver o pôr-de-sol, apreciar os traços da presença alemã na Namíbia, comer bem. Um dia bastaria para ver os principais atrativos da pequena cidade mas com três dias vai dar para descansar, ver e sobretudo dedicar um dia a Sandwich Harbour.
Este é um dos tais locais mágicos onde o infinito deserto toca o oceano, numa tela em tons exclusivos de azul e dourado. As tours não são baratas, pensemos em 120 Euros para um dia bem passado. Inclui transporte à porta, todo o passeio em veículo todo-o-terreno, troços na praia, entre a rebentação e as dunas, depois um pouco para o interior, por cima, a surfar na areia, vistas fabulosas, memórias únicas. Vamos até Sandwich Harbour, o núcleo histórico de colonização da região, agora sem vestígios de presença humana. Ali é servido um almoço ligeiro e depois, no regresso, aventuras no deserto.
Dia 9 – Sesriem
346 km – 1605 km
Sesriem é a base para um dos locais mais icónicos da Namíbia: o deadvlei. A imagem das árvores calcificadas são uma imagem de marca do país e é aqui que a maioria dos visitantes procura vê-las. O cenário é magnífico, o deserto, as dunas e, claro, o vale. Há outros atrativos, como o canyon de Sesriem e o hidden vlei. O acesso é regulado, e é melhor ficar no camping oficial, no interior do Parque, pois quem sair de lá pode iniciar o caminho de 50 km antes do nascer do sol, chegando antes das multidões. Uma noite chegará. O bilhete é de 24 horas o que significa que se chegar a boa hora pode visitar Sossusvlei duas vezes sem mais encargos. Mas a distância de 50 km entre Sesriem e Sossuvlei pode ser dissuasora.
A caminho de Sesriem uma paragem em Solitaire é obrigatória. Um “oásis” a meio do percurso com um ambiente muito especial e muita mística.
Dia 10 – Namtib
248 km – 1853 km
Uma paragem técnica para dividir em duas partes um percurso que de outra forma seria de difícil digestão. De Sesriem quer-se chegar a Luderitz e em Namtib encontra-se o Little Hunter’s Rest, considerado por alguns um dos melhores campings da Namíbia. Não pelas comodidades, pois é exatamente o oposto, espartano ao limite, mas pelo cenário. O final do dia neste parque de campismo é inesquecível. A estrada junto à qual (sendo que na Namíbia 12 km é uma boa distância para se dizer que se está junto a alguma coisa) se encontra é também considerada de interesse pelos aspetos cénicos que a envolvem. Uma experiência!
Dia 11 e 12 – Luderitz
242 km – 2095 km
Alguns visitantes não chegam a Luderitz. Compreende-se. É um pouco fora de mão. Mas como tenho a obsessão por locais abandonados e como Kolmanskop fica junto a esta pequena cidade costeira, tinha mesmo que vir. Um dia para Luderitz, as suas ruas e arquitetura colonial. Se houver tempo, especialmente ao fim da tarde, ir até ao farol, visitar os pontos de costa ermos, onde o Atlântico está sempre presente, não se vê vivalma, flamingos lindíssimos. E no segundo dia, visitar a cidade mineira abandonada, recomendando-se o café-restaurante para uma bela refeição após explorar aqueles edifícios atmosféricos. Não dispensaria Luderitz, nunca.
Dia 13 – Fish River Canyon
446 km – 2541 km
O segundo maior canyon do mundo, a seguir ao Grand Canyon nos EUA. Existe um parque de campismo oficial, da NWR. Não é preciso muito tempo no local, as vistas usufruem-se e depois não há muito mais a fazer. Alguns viajantes fazem o hiking de longa distância no interior do canyon mas isso é algo que necessita de boa forma física e de vários dias disponíveis.
Dia 14 – Quiver Tree Forest
190 km – 2731 km
Estas árvores parecem saídas de uma história de ficção científica e a caminho de Windhoek esta quinta é um excelente local para pernoitar e apreciar o cenário. Trata-se do Quivertree Forest Rest Camp e prometo fotografias únicas, especialmente pelo pôr-do-sol até porque o acesso à floresta se faz junto à zona de campismo. Além disso o proprietário tem duas chitas de estimação, que vivem quase em liberdade, dispondo de um terreno vedado de área não muito diferente do que seria o seu território na natureza.
Dia 15 – Windhoek
507 km – 3258 km
E por fim a despedida. Pode conduzir directamente para o aeroporto, são 500 km de estrada impecável onde não se esperam percalços. Ou passar esta noite em Windohek. Foram cerca de 3300 km de aventura.
Para mais detalhes e fotografias pode ver o diário da viagem do Cruzamundos pela Namíbia.