A República Dominicana é por muitos considerada uma terra que se limita ao universo dos “all included“, de resorts, turismo pachorrento e praias de águas azul turquesa. A primeira ideia que ocorre quando se fala neste país envolve certamente sol, pinãs coladas e um doce não fazer nada.

Há sítios assim, reduzidos a uma meia existência no imaginário colectivo. Lembro-me quando fui a Cabo Verde. Para além de eu próprio ter resistido à ideia de visitar aquele arquipélago africano, as pessoas com quem ia falando repetiam o mesmo preconceito, construído no mundo de férias de pacote focado nas ilhas do Sal e da Boavista. Mas Cabo Verde é muito mais do que isso, assim como o é a República Dominicana.

O primeiro sinal que recebi nesse sentido veio de um par de artigos que se cruzaram comigo há um par de anos. Falavam de uma outra República Dominicana, longe dos resorts de Punta Caña. De aventura, de um povo alegre e de praias desconhecidas, logo, desertas. Tomei nota mental.

A meio de 2021, entorpecido por quase um ano sem viajar, passou-me pela vista uma promoção de voos TAP, directos de Lisboa para Punta Caña. 370 Euros, ida e volta, claro. Foi aquele click. Estava na altura de visitar este país caribenho.

E foi assim que no dia 19 de um Janeiro bem frio acordei cedinho, desci a rua, e me fui postar na paragem de autocarros onde para minha grande benfeitoria para o Expresso para Lisboa. Começava aqui a primeira aventura de viagem de 2022.

Aqui mesmo começa a viagem.

Aventura? Visitar um país tão pachorrento como a República Dominicana não seria assim uma grande aventura, não é? Pois, só que na La Hispaniola fica também o Haiti, e este fruto proibido prometia trazer a pimenta à viagem… e não desiludiu.

Para já, na fase preparatória, tinha-me esforçado por decidir se tentaria cruzar a fronteira. Recolhi a informação possível e depois disso continuava sem uma decisão. A fazer lembrar a viagem à Síria a partir da Jordânia, decidida uma dia antes. A questão haitiana ficou assim pendente, logo se veria.

A viagem de autocarro até Sete Rios correu sem novidades. Tinha umas quantas missões a concluir na capital – e minha terra – antes de seguir para o aeroporto. Vender algo que tinha colocado à venda no OLX, comprar a merenda para a viagem e mais umas coisitas. Encontrei a minha irmã que ficaria com a roupa de inverno que trazia vestida, passei uns minutos de frio e entrei no terminal, em t-shirt, sem nada de manga comprida na mochila.

Não me recordo de ter vista o aeroporto da Portela tão tranquilo. Muito pouca gente, passagem pelo controle de segurança em três tempos. Depois, a verificação de passaportes. Ah aeroporto de Lisboa, igual a ti próprio… doze máquinas colocadas para o processo…. seis delas por detrás de uma fita, desactivadas. Duas, avariadas, devidamente assinaladas. Outra, avariada. De doze, três a funcionar. E, claro, uma fila para aceder a uma delas.

O tempo passa depressa, já não falta muito. O embarque. O helpdesk da TAP tinha dito que apesar de não ser necessário um teste COVID para entrar na República Dominicana, teria que o fazer na mesma para voar. Teria sido dinheiro deitado à rua se a sorte não me tivesse levado a uma farmácia que por ter começado na véspera a efectuar os testes financiados pelo Estado estava disponível para marcação imediata. Porque no aeroporto ninguém me pediu tal teste.

O voo, enfim, não foi dos melhores. Ainda não se tinham sentado e já um casal de trolls polaco que iria à minha frente tinha tirado as máscaras. Ao fim de um uma hora no ar já havia gente sem máscara por todo o lado. Considerando que é obrigatório por lei, será da responsabilidade da TAP e dos seus funcionários fazer cumprir, mas é como se vê… não o fazem. De resto, às 20:00 de Portugal o pessoal de cabine já tinha dado o mote: toda a gente na caminha, luzes apagadas e ninguém à vista.

Foi mau. Muitas crianças a chorar, sem espaço para me mexer, com passageiros sentados ao meu lado. Já tive viagens de longo curso mais agradáveis.

E depois, a chegada. O calor tropical e logo uma chuvada a condizer para dar as boas-vindas. Corrida para o autocarro, suficiente para ficar consideravelmente molhado.

Chuvada tropical como boas vindas à República Dominicana

À saída a pessoa que me deveria receber para o transfer não estava lá. Ali fiquei, como um cachorrinho abandonado, a ver todos os outros encontrar as suas companhias e a multidão a escoar-se. Acabei por pagar 25 USD a um tipo para me levar. 25 USD para 8 km é bastante aqui. Por acaso era simpático e cheguei bem ao Costa Love Hotel.

Foi uma boa escolha. Bem localizado para o dia seguinte, muito barato para o que oferecia… um pequeno estúdio, muito limpo, boa internet e apesar de barulhento ao serão, tranquilo para dormir.

 

 

4 COMENTÁRIOS

  1. Olá Ricardo
    Vou acompanhar esta aventura a par e passo. Adoro a Dominicana, Havana, Mexico…
    Já tenho saudades de viajar….

  2. Oi Clara… obrigado! Também adoro, quer dizer… isso tudo menos o México que é país onde não pretendo regressar. Adoro toda a América Latina tirando o México, mas talvez onde me sinta mais feliz seja no ambiente caribenho hispânico, Cuba e República Dominicana. Não vejo a hora de regressar aqui, e ainda há poucos meses de lá vim. Nesta viagem há também um grande destaque para a escapadela ao Haiti, de facto muito complicado para viajar.

  3. Olá Ricardo
    Confesso que não li tudo sobre a sua viagem ao México, apercebi-me de uma série de contratempos, mas julgava que de uma maneira geral tinha gostado do México.
    Agora fiquei surpreendido com o seu “tudo menos o México”
    O que me escapou ?
    Abraço

    • Oi Eduardo, o México não foi nem mais nem menos do que esperava que fosse. Ia sem grandes expectativas e a minha realidade correspondeu ao que imaginava. Não gosto do México quando comparado com o mundo em geral e especialmente quando comparado com a América Latina. Não tenho o menor interesse por vestígios arqueológicos, não gosto de comida mexicana. Não gosto do tamanho do país, das horas necessárias entre viagens, da paisagem monótona. Não gosto da dificuldade encontrar cantinhos (aldeias, pequenas cidades) ao mesmo tempo pacatos e bonitos. No contexto, não gostei da atitude das autoridades e das pessoas perante o COVID (cheio de 8’s e de 80’s, um exagero por excesso e por defeito, dependendo das coisas). Em suma, para mim o México é uma versão pálida de tudo o que se encontra melhor noutros países da América Latina. Tirando o Peru, de que ainda gosto menos. Quanto a contratempos, viajar sem eles deve ser perto de uma utopia. Fazem parte e não me incomodam, feitas as contas. E assim de repente, os 30 dias no México nem tiveram grandes incidentes.

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