A pequena noite a que tive direito foi de bom sono. Um quarto tranquilo e numa temperatura perfeita. Acordei tarde, claro, a meio da manhã, mas incrivelmente pronto para a aventura.

Na realidade ficámos por casa a maior parte do dia. O Mitebh preparou uma merenda, bebemos um chá. Descansei um pouco mais e já eram quase quatro horas quando saímos.

Em Riyadh as distâncias são imensas. É uma cidade que cresceu sob uma orientação mestra: espaço não é problema. Uma realidade que observei um pouco por todo o país, o que não será de estranhar. Afinal, a densidade demográfica na Arábia Saudita é mínima. Poucas pessoas, muita terra. Construção horizontal, não tanto vertical. E assim, uma cidade de 8 milhões de habitantes estende-se por dezenas de quilómetros.

Tudo é longe e implica muito tempo de carro, a cruzar aquelas avenidas sem fim, que traçam uma metrópole inclemente para com os peões. Caminhar em Riyadh é um absurdo ficcional. Não é uma questão de ser difícil: é impossível. Talvez uma pequena deslocação no bairro para ir ao supermercado. Mas é tudo. Se andarmos umas centenas de metros, seja em que direcção for, logo daremos de caras com uma via rápida com meia dúzia de faixas de rodagem. E mesmo que isso não acontecesse, muitas dessas longas avenidas não têm qualquer passeio para quem não está numa viatura.

E foi assim que após rodarmos umas dezenas de quilómetros e nos debatermos para encontrar um lugar de estacionamento chegámos a um dos locais que tinha referenciado como de visita essencial. Por mera coincidência. Não o pedi ao Mitebh. Falo da fortaleza de Al Masmak e da principal praça da capital saudita.

Um leilão de notas de coleção

Começámos contudo por um interessante mercado cuja existência desconhecia. Ali próximo, as antiguidades estendem-se em tapetes colocados no chão ou bancadas improvisadas. Como acontece com mercados deste género um pouco por todo o mundo.

Aqui a multidão é diferente. São homens, só homens, vestidos de branco e quase todos com o tradicional lenço árabe colocado. Neste mercado leiloam-se bens, o que traz uma nota adicional ao ambiente.

Ficamos por ali um pouco. Encontramos um amigo couchsurfer do Mitebh, o Abdullah, que vem com um viajante asiático. Dizem-me que não há problema em tirar fotos, as pessoas estão habituadas ao cirandar dos turistas.

Mesmo assim faço-o a medo. Acontece-me quase sempre quando chego a um país novo, como se procurasse conhecer os limites antes de começar a captar imagens.

Dali caminhamos até à fortaleza. Passamos junto à maior mesquita da cidade e atravessamos uma parte da praça principal, o local onde ainda há pouco tempo se procediam às execuções públicas, por decapitação. Hoje em dia, apesar da pena capital se manter, os procedimentos são efectuados no recato da penitenciária, tal como nos EUA.

Paquistaneses no seu dia de folga junto à fortaleza de Masmak

 

É final da tarde de uma Sexta-feira, dia que corresponde ao nosso Domingo. Há muita gente por ali. Frente à fortaleza, hoje feita museu, encontram-se os trabalhadores que vêm de outros países. Muitos paquistaneses, alguns homens do Bangladesh, quiçá jordanos, egípcios. É dia de folga, dia de sociabilizar.

A fortaleza está aberta. É bom. E raro, como verei nos dias seguintes. Na Arábia Saudita (e outros países do Golfo), museus e monumentos abrem e fecham como que movidos por forças misteriosas. Nunca se sabe se encontraremos o local aberto ao público ou encerrado sem razão aparente.

Aberta e cheia. Alguns turistas ocidentais e muitos sauditas. A exposição é fraquita. Como é que num país com tanto dinheiro há coisas feitas de maneira tão pobre foi algo que me intrigou.

O interior da fortaleza vai sendo percorrido, sala após sala. Já é de noite, apesar de ainda pouco passar das cinco da tarde.

Termina a visita. No exterior o ambiente é intenso, de convivio, de muita gente sem contudo se tornar desagradável.

Os meus amigos vão para um café enquanto eu deambulo por ali fotografando. Junto-me a eles. Noto que apesar da fama estou rodeado de mulheres. Sauditas, quase todas de cabeça coberta, mas no café, sem homens. E estrangeiras, sem qualquer limitação de estilo.

Na praça principal de Riyadh um painel de luz colorida alegra o serão

Nisto inicia-se o espectáculo de luz. Estamos em pleno Noor Riyadh. O festival de luz que enche a capital saudita de cor e fantásticos efeitos de luz. E nesse serão a fortaleza de Masmak será o alvo dos projectores.

Assistimos ao show. A multidão está deleitada. Aquilo dura uns minutos. E depois o ciclo reinicia-se. Entretanto pensamos em jantar. Tudo para os carros. Mais uma viagem de vários quilómetros para um restaurante de farta comida. Tudo muito local e delicioso. Junta-se a nós um outro couchsurfer, um iemenita que vive há muitos anos na Arábia Saudita.

Um saudita capta o espectáculo de luz projectado nas paredes da fortaleza

A seguir vamos para um café, e mais uma vez aquela sensação de viagem entre dois pontos. Já devemos ter percorrido uns 150 km nestas deslocações entre locais da capital.

O serão passa-se com muita conversa, até chegar a hora da despedida. Voltamos a casa. Foi um dia agradável, o primeiro dia num país novo. Não esperava um ambiente tão liberal, perante o preconceito formado pela informação que vamos recebendo na Europa.

 

 

 

 

 

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