O fim da estrada poderia ser o nome de um thriller psicológico. Mas não é. Trata-se apenas da designação popular para um local na ilha de São Tomé.  É onde termina a estrada nacional número dois, a que, saindo da cidade  contorna a ilha por cima, dirigindo-se para norte antes de começar a descer, seguindo sempre para sul até chegar a Santa Catarina. Trata-se de uma via bem asfaltada, oferecendo um cenário deslumbrante, variado, como o é tudo neste país.

Santa Catarina era em tempos dos portugueses uma roça. Tornou-se depois uma aldeia. A última localidade antes da selva tomar completamente conta da terra. Para além de Santa Catarina não há nada digno de nome, mas, surpreendentemente, a estrada prossegue, para lado algum. Durante uns 4 ou 5 quilómetros, depois de atravessar a ponte à saida da povoação. Nesta parte da ilha a vegetação é cerrada e mesmo em dias de sol a estrada torna-se escura, à medida que o piso se vai paulatinamente degradando e as bermas se estreitam.

O condutor desprevenido apanhará um dos sustos da sua vida quando, sem aviso, a estrada termina. Aquilo que ainda ali atrás era um belo tapete de asfalto e que se foi tornando um empedrado coberto de musgos e ervas acaba subitamente, com um impenetrável muro verde pela frente. É aqui que a selva trava a sua guerra. Objectivo: conquistar a estrada.

Daqui para a frente, só a pé, por um trilho que foi tudo o que se conseguiu manter da antiga via que conduzia a uma outra roça, entretanto abandonado. Essa seria o fim da linha, antes de se chegar aquela fatia no canto da ilha que se encontra totalmente isolada. Os mais aventurosos podem tentar seguir um débil caminho, mas sem o auxílio de um local será melhor esperar uma série de milagres para se chegar até ao outro lado. E depois, este é o território da cobra-negra, uma serpente de mordedura letal que, apesar de extremamente tímida, merece o devido respeito.

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Mas o que importa é a magia daquele ponto onde a estrada termina e a selva começa. Há algo de arrepiante ali, quando se desliga o motor do jipe e se escutam os ruídos da selva. É um falso silêncio, porque a bicharada produz um rumor ensurdecedor.

Os mais afoitos podem contractar um guia para um passeio pela selva. Se tiverem sorte avistarão uma comunidade de raros macacos, e há sempre o chamariz da roça abandonada, mais para a frente, onde velhos veículos repousam para a eternidade nas garagens onde foram deixados há cerca de 35 anos. Se não, apenas a experência de chegar aquele ponto é razão suficiente para seguir a EN2 após Santa Catarina.

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1 COMENTÁRIO

  1. Been There, Seen That!
    Estive lá várias vezes e, a tua descrição encaixa na perfeição.
    Que saudades daqueles lugares mágicos!…
    Muito obrigado pela recordação.

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